Seis feitos extraordinários da China em 2020

Com crescimento econômico em plena pandemia e realizações científicas na medicina, computação, energia e combate à pobreza, país demonstra vigor da planificação

Imagem: Cadu Rolim
por Alexandre Flach

Todos os grandes países do mundo que passaram por uma revolução operária estão em situação infinitamente melhor do que o Brasil. Até a Rússia, que retrocedeu para o capitalismo, e era um país bem mais pobre que o nosso quando foi tomada pela revolução vermelha, hoje está anos luz à nossa frente. Mas o grande exemplo é a China. De país pobre e historicamente explorado por europeus e norte-americanos, o que deixava quase toda a sua população na miséria, fez a revolução socialista e segurou a onda contrarrevolucionária dos EUA. 

Contribua com O Partisano - Catarse dO Partisano

Hoje, a China segue firme na transição ao socialismo e mostra a força da economia racionalmente planejada com base no marxismo. Até 2024 deverá ultrapassar a maior potência capitalista do planeta, os EUA, ao mesmo tempo em que vence a pobreza extrema e eleva o nível de vida de sua enorme população, próxima a 1,5 bilhão de chineses.

Enquanto isso, para nós brasileiros, chegar vivo ao final deste ano já foi uma vitória. Mesmo com o bolso vazio e correndo o risco de morrer (ou matar) alguém se insistir nesse negócio de férias na praia, pescaria, jogo de futebol, barzinho etc etc… 

Para a China, o ano que parou o mundo inteiro foi um período de grandes realizações nas mais diversas áreas: ciência, economia, comércio mundial e combate à pobreza. Não é à toa que uma recente pesquisa demonstra que a juventude chinesa aponta o revolucionário Mao Tse Tung como a maior figura histórica do país. De fato, para o sistema social inaugurado pela revolução chinesa, a COVID foi apenas um espirro, durou alguns meses, e já passou. Vejamos, a seguir, seis realizações extraordinárias de um sistema político com economia planificada e uma ampla margem de soberania nacional:

1. A nova rota da seda

No dia 4 de dezembro foi inaugurado um importante trecho da nova Rota da Seda: a ferrovia de Istambul para Xi’an, com 8.693km. Agora será possível transportar cargas por cinco países em apenas 12 dias — que antes demandava mais de um mês — reduzindo brutalmente os custos para o comércio.

A “Nova Rota da Seda” é uma combinação de acordos comerciais e investimento chinês em infraestrutura em diversos países. A previsão é da ordem de 4 trilhões de dólares em sistemas rodoviários, ferroviários, dutoviários para gás e óleo, usinas geradoras de energia, linhas de transmissão de energia e portos.

O “socialismo nos moldes chineses” não se limita ao desenvolvimento da China. Imagem: reprodução

Ao contrário dos tradicionais acordos rapineiros dos países imperialistas — Inglaterra, França, Bélgica, Holanda, Alemanha, Itália, Estados Unidos e Japão — os acordos da Rota da Seda são baseados nos Cinco Princípios de Coexistência Pacífica que norteiam a política externa da China: mútuo respeito pela integridade territorial e soberania, não agressão mútua, não interferência nos assuntos internos, benefício mútuo e igualitário e coexistência pacífica.

Leia também:  O fim da pauta do impeachment de Bolsonaro
O trecho da rota da seda de Istambul a Xi’an foi inaugurado em dezembro de 2020. Imagem: Daily Sabah

A Rota da Seda está incluída no plano chinês de atingir suas duas “metas centenárias”

  • em 2021 (100 anos da fundação do Partido Comunista Chinês), atingir uma sociedade “moderadamente próspera em todos os sentidos”, sem miséria e com ao menos 440 milhões de pessoas no equivalente chinês de uma “classe média”;
  • em 2049 (100 anos da revolução comunista chinesa e fundação da República Popular da China), completar a construção de uma “moderna nação socialista, ou seja, próspera, forte, democrática, avançada culturalmente, harmoniosa e bela”.
Aprovação do 14º Plano Quinquenário Chinês pelo Comitê Central do Partido Comunista. Imagem: Xinhua

Tratando-se de um país com mais de 1,5 bilhão de pessoas, é óbvio que estas metas demandam o desenvolvimento econômico de outros países, condição que tudo indica não foi esquecida pelos chineses.

O Brasil esteve por algum tempo na mira dessa Rota da Seda, quando acordos internacionais assinados pela Presidenta Dilma previam a construção de uma ferrovia que ligaria a costa brasileira ao oceano Pacífico, com investimentos na ordem de 50 bilhões de dólares. Mas após o golpe imperialista de 2016 a coisa ficou parada.

2. Vacina

Mesmo com menos de 5 mil mortes e apenas 18 a 20 casos novos por dia, a China possui ao menos cinco vacinas em avançado estágio de testes, aprovadas ou já sendo aplicadas, produzidas pelas fábricas Sinovac, SinoPharm, CanSino Biologics e Anhui Zhifei Longcom Biophamaceutical. E mesmo assim vai importar vacinas da Pfizer para acelerar o processo de imunização de sua população. Apesar disso, a China vai DOAR vacinas, para a Ásia e África. A previsão é que só a estatal SinoPharm irá produzir 1 bilhão de doses em 2021, afinal, gente doente e morrendo só interessa mesmo ao excrementíssimo despresidente-lixo Bolsonaro.

3. Erradicação da pobreza extrema

Em novembro, a China anunciou ao mundo a eliminação da pobreza absoluta após inspeções governamentais e independentes constatarem a ausência de pessoas vivendo com menos de 2,30 dólares por dia nas últimas nove províncias e regiões autônomas onde, no início do ano, ainda havia chineses nestas condições.

Nos últimos sete anos, a China tirou 10 milhões de pessoas em média por ano da extrema pobreza. Imagem: CGTN

Para realizar este objetivo, a China estabeleceu um sistema de quatro níveis onde ações nacionais de redução de pobreza em larga escala são combinadas com a identificação de necessidades específicas de diferentes áreas empobrecidas para a elaboração de planos personalizados que levam em consideração as características locais para realizar investimentos em infraestrutura, agricultura, conservação de água, transporte, energia e comunicações que, de fato, sejam eficazes.

A abordagem também garante que todas as famílias pobres recebam ajuda em tempo hábil e que cada aldeia tenha uma equipe de funcionários residentes em tempo integral. Os secretários dos comitês locais do partido nos níveis provincial, municipal e local coordenam diferentes tarefas para ajudar os pobres. Além disso, a fim de garantir a precisão e autenticidade dos projetos de redução de pobreza, avaliações de terceiros são realizadas regular e aleatoriamente. (China Global Television Network)

O parâmetro utilizado pela China para estabelecer a linha da pobreza absoluta se baseia no PPC (Paridade do Poder de Compra) onde uma cesta de bens é utilizada como meio de comparação entre o yuan e o dólar, padrão que permite uma comparação mais justa do que a simples conversão através de taxas de câmbio. Este padrão é reajustado todos os anos para refletir a pressão inflacionária eventualmente enfrentada pelas populações atingidas.

Leia também:  O Ocidente superestima a influência de Aleksandr Dugin na Rússia

4. Novas amostras do solo lunar

Considerada uma das mais complexas missões lunares de todos os tempos, a China foi responsável por quebrar 40 anos de jejum em coleta de material lunar. Os soviéticos foram os últimos a realizar esta proeza em 1976, com a missão Luna 24. As rochas ajudarão a entender melhor a estrutura e a história do nosso satélite e serão essenciais para os chineses construírem uma estação na Lua até 2030 que, além de pesquisas, irá explorar a matéria lunar na produção de energia por fusão nuclear.

A segunda bandeira de um país fincada no solo lunar diz muito a respeito da evolução histórica de nossa sociedade

A sonda [enviada para a Lua] consiste de 4 partes: um módulo de serviço, um lander, ou módulo de pouso, um veículo de ascensão, e um módulo de retorno para a Terra. Na órbita lunar, o lander e o módulo de ascensão irão descer até a superfície, enquanto que o módulo de serviço e o módulo de retorno ficam na órbita da Lua. O lander irá coletar amostras usando uma colherzinha mecânica e uma ferramenta de perfuração que pode escavar 2 metros no solo. Cerca de 4kg de material lunar serão depositados no veículo de ascensão. (Space Today)

A missão Chang’e-5 usou um processo de reentrada chamado “skip reentry”, em que o veículo quica uma vez na atmosfera em vez de entrar direto, diminuindo a velocidade e o atrito

Conforme afirmam os pesquisadores, a análise das amostras lunares demonstra que o conteúdo do solo e das rochas pode ser transformado em água e oxigênio, o que certamente será de grande importância na operação da base lunar e também na produção de combustível suplementar para veículos de pouso lunar.

5. Sol artificial chinês começou a brilhar em 2020

Considerada impossível há poucos anos, a produção de energia através de fusão nuclear foi testada com sucesso na China em 2020. Enquanto a fissão nuclear retira energia pela quebra de átomos radioativos, produzindo lixo atômico, a fusão nuclear funde dois átomos de Hidrogênio formando Hélio, o que gera volumes imensos de energia a partir de pouquíssimo material e sem qualquer resíduo tóxico ou risco de acidentes nucleares. É o mesmo processo de produção de energia do Sol.

Projetado para replicar as reações naturais que ocorrem no sol, usando hidrogênio e deutério como combustíveis, o reator de Chengdu, província de Sichuan, fornecerá energia limpa por meio de fusão nuclear controlada. (Corporação Nuclear Nacional da China).

Membros da CNNC trabalhando na instalação do HL-2M Tokamak, que entrou em operação dia 4 de dezembro de 2020. Para fundir os átomos de Hidrogênio, o reator chinês alcança temperaturas superiores a 150 milhões de graus Celsius, dez vezes mais quente que o núcleo do Sol

6. Computador quântico

Usando feixes de laser para realizar, em poucos minutos, um cálculo que levaria metade da idade da Terra nos melhores supercomputadores existentes, uma equipe chinesa conseguiu demonstrar, pela primeira vez, a chamada “vantagem quântica”, que explora “o funcionamento contraintuitivo da mecânica quântica para realizar cálculos que seriam proibitivamente lentos em computadores clássicos”, conforme reportagem da revista Nature.

Leia também:  Lucio Costa fora de casa: Europa, Portugal etc.
Computador quântico chinês, baseado em fótons, desafia a “vantagem quântica” do Google

“Mostramos que podemos usar fótons, a unidade fundamental da luz, para demonstrar o poder computacional quântico muito além da contraparte clássica”, disse Jian-Wei Pan, da Universidade de Ciência e Tecnologia da China em Hefei

Além de demonstrar as reais potencialidades da vantagem quântica, o cálculo realizado pelos chineses — o “problema de amostragem de bóson” — tem aplicações práticas em potencial “na teoria dos grafos, química quântica e aprendizado de máquina”, conforme a Nature.

Ao realizar uma experiência semelhante no ano passado, o Google foi contestado por pesquisadores quânticos, pois a velocidade de processamento alcançada pela empresa americana poderia ser ultrapassada por algoritmos clássicos.

Contribua com O Partisano - Catarse dO Partisano

Computadores clássicos somente podem usar bits como unidades básicas de informação, limitados a assumir apenas os valores 0 e 1 em separado. Os quânticos conseguem tirar proveito dos chamados qubits, que trazem para a computação particularidades da física quântica, como a do entrelaçamento, permitindo que a menor unidade de informação possa assumir, simultaneamente, os estados 0 e 1, o que tem o potencial de reduzir toda a atual tecnologia de programação a uma verdadeira idade da pedra da informática.

Deixe uma resposta