Quem realmente matou Malcolm X?

A série, disponível na Netflix, se debruça sobre os mistérios que pairam sobre o assassinato de um dos maiores líderes do movimento negro dos EUA

Imagem: Mural de Tristan Eaton em Los Angeles
por Diego Abrahão

A influência de Malcolm X, histórico ativista político e defensor dos direitos dos afro-americanos, influencia a juventude negra no mundo todo mesmo depois de décadas da sua morte. Malcolm Little – seu nome de batismo que ele considerava seu “nome de escravo” – nasceu em 19 de maio de 1925 no Nebraska, Estados Unidos. Aos seus iguais, ele mostrou que era preciso lutar com todas as armas necessárias caso quisessem conquistar seus direitos. Seus discursos exaltavam a autoestima do povo negro, e os estimulavam a não se sentirem inferiores em relação aos brancos. Em uma de suas inúmeras falas marcantes, Malcolm disse:

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Falem como negros. Negros que não têm mais paciência. Os dias de ficarmos sentados, de rastejarmos, de chorarmos e de implorarmos acabaram.”

No dia 21 de fevereiro de 1965, aos 39 anos, Malcolm foi morto com 13 tiros quando discursava no Harlem, em Nova Iorque. Apesar de sua importância para o movimento negro os fatos em relação à sua morte ainda são um mistério. Foi preciso um guia turístico realizar uma investigação particular por mais de 30 anos para resolvê-lo, e o resultado podemos ver na nova série documental Quem Matou Malcolm X?, dirigida por Rachel Dretzin e Phil Bertelse e produzida pela Fusion para o Netflix.

Malcolm X e seu “pupilo” Muhammad Ali

Montando o quebra-cabeça

A série se inicia com a apresentação de Abdur-Rahman, um militante do movimento negro que admira Malcolm X desde jovem. Ele sempre questionou a versão oficial da morte de Malcolm, a ponto de resolver abrir sua própria investigação para descobrir o que realmente aconteceu. Explorando seu desenvolvimento político, a série mostra as disputas que vão sendo geradas principalmente com a Nação do Islã, organização muçulmana negra dos EUA em que Malcolm militou durante 12 anos, e as forças políticas do governo.

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Com os desentendimentos constantes de Malcolm X e Elijah Muhammad, líder da Nação do Islã, um clima de guerra vai se desenvolvendo dentro da organização. Essa tensão culmina na saída de Malcolm da entidade, em ameaças de morte e em um atentado em sua casa durante uma noite, situação que colocou em risco não só a sua vida, mas também a de sua mulher e de suas filhas.

Abdur-Rahman levanta também o papel das diversas forças policiais envolvidas. Uma das revelações é que a polícia e o FBI tinham agentes infiltrados que acompanhavam Malcolm X em todos os lugares, além de grampos telefônicos e outras ações. Algo que gera suspeitas sobre o envolvimento das forças policiais no assassinato, pois mesmo que não tenham atuado diretamente, também não fizeram nada a respeito e estavam o tempo todo acompanhando as ameaças contra a vida de uma figura tão visada.

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Outro acontecimento que levanta tais suspeitas é que no dia do assassinato de Malcolm, mesmo com as diversas ameaças telefônicas e depois do atentado contra sua família, a força policial no salão Audubon Ballroom, onde Malcolm estava, e arredores era mínima. Após os disparos fatais que ceifaram a vida do grande líder negro, uma grande confusão se formou no salão e apenas um dos atiradores envolvidos foi preso enquanto tentava escapar pela porta da frente do local.

Malcolm sendo levado ao hospital depois de ser alvejado por 13 tiros

Segundo Talmadge Hayer, o único atirador pego em flagrante, e testemunhas que estavam no local, o atentado contou com a participação de cinco homens armados. Mesmo com tais declarações e uma breve descrição dos suspeitos que fugiram, a polícia prendeu dois homens que nem sequer estavam no local durante a ação. Norman 3X Butler e Thomas 15X Johnson foram condenados a prisão perpétua por um assassinato que não cometeram. Ambos passaram 20 anos na cadeia e até hoje não foram inocentados das acusações.

A série também trata do interesse policial na indisposição crescente entre Malcolm X e o líder da Nação do Islã, Elijah Muhammad. Esse desentendimento entre ambos cresceu a tal ponto que diversos integrantes da Nação, de uma ala chamada Fruto do Islã, se mostravam dispostos a dar um fim no que eles consideravam um problema: Malcolm X. Ao final a série nos mostra que muitos queriam por um fim nos questionamentos levantados por Malcolm, que em todas as suas aparições e falas sempre se mostrou firme e leal ao povo negro que tanto sofreu e sofre nos EUA e em todo o mundo.

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O líder da Nação do Islã, Elijah Muhammad

Malcolm viveu por essa causa e dizia não temer morrer por ela e apesar de terem calado sua voz, não encerraram sua luta e muito menos suas ideias. Malcolm X influenciou o surgimento de toda uma geração de jovens negros orgulhosos de sua história, de sua cor, e impulsionou a criação do Partido dos Panteras Negras e diversas outras organizações de luta contra a violência que atinge o povo negro até os dias de hoje.

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A série nos mostra que mesmo com toda sua grandeza e importância, Malcolm X ainda precisa que se faça justiça sobre seu assassinato, missão que Abdur-Rahman resolveu levar por toda sua vida.

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