Quem é Ricardo Nunes, novo prefeito de São Paulo?

por William Dunne

Acaba de ser anunciada a morte do prefeito de São Paulo, Bruno Covas, na manhã deste domingo (16). Na noite de sexta-feira (14) o quadro do prefeito de São Paulo, Bruno Covas, tinha se tornado irreversível, segundo seu boletim médico. Com o final dramático e prematuro de seu mandato, o tucano, que sofria de câncer no estômago, deixará em seu lugar o vice-prefeito Ricardo Nunes, do MDB. Trata-se de um pouco conhecido representante da extrema direita, que terá um mandato quase completo pela frente sem ter sido eleito.

Durante a campanha eleitoral do ano passado, o vice ficou escondido, mas teve que se pronunciar diante de uma antiga acusação de violência doméstica, negada por ele e por sua ex-mulher Regina Carnovale, que alegaram então que passaram por um “momento difícil” no casamento. Cinco anos antes, porém, postagens nas redes sociais de Carnovale acusavam Nunes de atrasar o pagamento de pensão alimentícia. Carnovale também dizia ter provas de ter sido agredida.

“Ideologia de gênero” e repressão

Em 2016, Ricardo Nunes, então vereador, protagonizou um conflito na Câmara dos Vereadores. Ao promover uma homenagem ao professor Felipe Nery e ao padre José Eduardo de Oliveira e Silva pelo que Nunes classificou na época um “excelente trabalho que desenvolveram junto ao Plano Nacional e Municipal da Educação, valorizando a família contra a ideologia de gênero”, o vereador provocou um protesto de militantes da causa LGBT. Na ocasião, os ativistas foram impedidos de entrar para acompanhar a sessão, e foram reprimidos pela polícia, que dispersou a manifestação usando gás de pimenta, um mau presságio de como será o governo do agora prefeito Ricardo Nunes.

O político do MDB foi um dos responsáveis por retirar o debate de gênero das escolas municipais de São Paulo, e celebrou isso como uma “vitória contra o mal”. Para o professor Felipe Nery, militante contra a chamada “ideologia de gênero”, foi concedida a Salva de Prata, maior honraria conferida pela Câmara de Vereadores de São Paulo.

Bolsonarismo

Recorde-se a oportunidade em que esse embate aconteceu: era o auge da campanha golpista para derrubar Dilma Rousseff. No dia da homenagem, a presidenta já estava afastada aguardando o julgamento no Senado. Nunes, portanto, estava dando sua contribuição à onda direitista despertada pela campanha golpista. A pauta escolhida para isso, o fantasma da “ideologia de gênero”, seria um dos principais motes da campanha de Jair Bolsonaro dois anos depois.

Nunes também chega à prefeitura sob suspeita de corrupção. Conforme um levantamento feito pela Mídia Ninja, “ao menos quatro reportagens da Folha de São Paulo relatam as suspeitas que envolvem o grupo político de Nunes com a chamada ‘máfia das creches’: 1. Grupo de vice de Covas usa verba da prefeitura em lojinhas suspeitas na máfia das creches; 2. Teia de vice de Covas em creches da prefeitura envolve nomeações políticas, parentescos e empresa; 3. Grupo de vice de Covas fatura por ano ao menos R$ 1,4 milhão com aluguel de creches à prefeitura; 4. Promotoria apura irregularidades e elos políticos em creches terceirizadas.” Não poderia faltar suspeitas desse tipo sobre um homem que ascendeu no embalo do bolsonarismo utilizando pautas reacionárias.

Deixe um comentário