Jornalão paulistano destila preconceito contra a maioria da população brasileira e promete retomar campanha de mentiras contra Lula

por Ivan Conterno
Felizmente, no Brasil, temos jornais socialmente comprometidos, que militam pela verdade. Não me refiro aqui aos grandes jornais do país, no entanto. O Estadão, antigamente A Província de S. Paulo, aquele jornal do século XIX comprometido com a escravidão e com a eugenia, não cansa de enfiar opiniões elitistas e preconceituosas entre um anúncio e outro, em pleno século XXI.
O editorial do Estadão do dia 10 de março de 2021 (“A ficha moral de Lula é suja”) foi um dos maiores exemplos de discriminação e elitismo no jornalismo dos últimos tempos. Chama Lula de “demiurgo de Garanhuns”, como se isso fosse algo ruim, e chama os lugares onde sua base eleitoral mora de “grotões miseráveis onde ainda [Lula] é rei”. O vocabulário, como se vê, é o mesmo do século retrasado. Traduzindo, o editorial faz chacota com o fato de Lula ser operário e nordestino e da população que potencialmente vota nele — 50% dos brasileiros, segundo pesquisa recentemente publicada no próprio jornal –— ser pobre e periférica.
Lula foi vítima de um juiz incompetente e suspeito, ou seja, um juiz que mandou as leis brasileiras para a puta que o pariu a fim de condenar um adversário político. O resultado disso foi a retirada da candidatura do favorito à Presidência da República, colocando um genocida no lugar. Ainda assim, segundo o jornalão, Lula é moralmente um criminoso. É a opinião que a grande imprensa brasileira repete agora para ver se cola. Como disse a Mônica Waldvogel na Globo News: “Lula não pode dizer que é inocente, porque só é inocente em termos do devido processo legal”. Qual seria a outra possibilidade? Inocente perante o Santo Ofício da Inquisição?
O editorial lamenta que, por ter os direitos políticos restituídos, “Lula da Silva pode até subir nos palanques para pedir votos e voltar ao poder”. Imagina só, que horrível, a população poder votar em quem quiser e um “da Silva” vencer! E ainda ameaça: aconteça o que acontecer, o da Silva será vinculado à corrupção pelos donos da opinião pública. Enfatiza que o recado da elite paulistana é de que se fodam as leis e a Constituição brasileira, de que viva o jornalismo de apelo moral (eugenista e eclesiástico). Reforçando a posição de tribunal religioso, o jornalão condena os pecados da Operação Lava Jato: “a pretensão de ser o patíbulo de todos os corruptos do Brasil”. A imprensa da elite escravagista não se contenta com a apuração dos fatos, quer recuperar também a exclusividade na vocação divina de colocar os Silvas no pelourinho.
Sobre a decisão de Fachin, diz o jornal: “É como se o juiz resolvesse marcar, no final do segundo tempo, um pênalti cometido no primeiro.” A mesma tropa que diz isso depois, do alto da sua casa grande, acusa o povo de tratar a política igual a torcida de futebol. O problema é que o narrador da partida estava torcendo para o time vigarista que comprou o juiz ladrão. Os comentaristas não reviram o lance, apoiaram a fraude e enganaram a plateia. Eles ainda insistem na mentira, mesmo depois do VAR comprovar que estavam errados.
Por trás do rebuscado vocabulário do editorial, há uma Barbie Fascista gritando “e daí que tem juiz e promotor manipulando as eleições se tudo isso foi contra o PT?” Aliás, que moral tem um jornal que surgiu para anunciar a venda e a fuga de escravos, que apoiou a Ditadura Militar e que hoje vive de apontar os “acertos” da política do Bolsonaro?