Na continuação da série sobre a China, o gigantesco crescimento econômico do país e como isso foi possível

por Alexandre Flach
Esse texto é o segundo de uma série sobre a China, que começou com a pergunta: China será o país dos sonhos pós-pandemia?
Luta de explorados contra exploradores
A China de hoje veio de uma história completamente diferente da vivida pelo povo dos Estados Unidos e da maioria dos países europeus, mas muito mais próxima do que vivemos aqui no Brasil. Para os países mais ricos do início do século passado, a China era apenas mais uma fonte de lucros, um lugar a mais no mundo para se explorar à força, como acontece com o Brasil até hoje. Trabalho barato, riquezas imensas, vasto território, mercado consumidor. Era tudo o que Inglaterra, França, Estados Unidos, Japão e outros países ricos da época queriam.
O povo chinês resistiu muito, mas enquanto a sua elite econômica (a classe burguesa chinesa) mandava nos destinos do país, o dinheiro desses países imperialistas falava mais alto, e eles sempre acabavam vencendo, tornando os chineses um dos povos mais pobres e explorados do planeta. Esta situação só começou a mudar quando o povo destruiu a burguesia chinesa através de uma revolução e colocou no poder um governo popular, na metade do século XX.
Desenvolvimento chinês
Depois de muitas idas e vindas, com décadas de acertos e erros, sem a burguesia pesando nas costas do povo, a China acabou deixando para trás séculos de pobreza e hoje é o segundo país mais rico do mundo. Considerando-se o PIB, só perde para os Estados Unidos. Mas fora o PIB, a China está bem à frente dos EUA em saúde, educação, oportunidades, tecnologia e bem-estar social.
Os empregados da indústria chinesa, por exemplo, viram subir os seus salários em 200% em média nos últimos 14 anos. Hoje, um operário chinês ganha bem acima de seus colegas brasileiros e de quase toda a da América Latina, com exceção apenas do Chile. Os salários dos operários chineses já se aproxima do que é pago em Portugal, Espanha e Itália.
Além do salário, o trabalhador na China conta com uma extensa rede de proteção social, construída à base de volumosos investimentos. Para se ter uma ideia, a educação recebeu US$ 520 bilhões em 2018, e US$550 bilhões foram para saúde em 2016.
A China possui a maior rede de trens-bala do mundo, com 22 mil quilômetros em um total de 124 mil quilômetros de ferrovias. Os chineses consideram esses trens de alta-velocidade até mais convenientes do que os aviões e os utilizam em larga escala. Conforme dados do governo chinês, até 2017, este meio de transporte recebeu mais de 7 bilhões de passageiros.
A China é campeã até mesmo de lançamento de foguetes ao espaço. Em 2019, foi responsável por aproximadamente um terço do total mundial de foguetes, com 30 lançamentos, um dos quais levou até mesmo um satélite construído em parceira com o Brasil, além de vários satélites europeus e norte-americanos.
Também é da China a maior rede 5G do mundo, operada por três mega-estatais chinesas, oferecendo a tecnologia a preços semelhantes ao 4G. Com esta nova tecnologia os chineses esperam chegar a um grau de conectividade que envolva não só a troca de conteúdo entre as pessoas mas formando também a chamada “internet das coisas”, onde fábricas inteligentes, com suas máquinas conectadas entre si e com o restante da cadeia produtiva poderão ter a sua produção diretamente ligada ao comércio e ao consumo. Algo que hoje, no Brasil, parece ficção científica.
E por falar em coisas “de outro mundo” para nós brasileiros, os chineses já não usam dinheiro em cédulas, ou mesmo cartão de crédito e débito, faz um bom tempo. Todo o comércio trabalha quase exclusivamente com QR Code, até vendedores de rua. Quem oferece dinheiro em papel na hora de comprar é visto como um verdadeiro “caipira” pelo chinês.
Qual é o segredo do sucesso da China?
Após ter sido praticamente destruída pelas potências mundiais – principalmente Estados Unidos, Inglaterra e Japão – o povo chinês fez uma revolução e acabou com a antiga classe dominante (burguesia) chinesa: os banqueiros, grandes industriais e proprietários rurais, além da ditadura militar que era a mão armada da opressão, foram destruídos pelo povo.
A burguesia – classe que domina pelo poder do dinheiro – sugava todas as forças do povo chinês e, na verdade, vendia a preço de banana a mão de obra chinesa e as suas riquezas aos países imperialistas, assim como faz até hoje no Brasil e em todo o mundo, não permitindo que o país pudesse se desenvolver.
Sem entregar a riqueza produzida para a burguesia, o povo chinês conseguiu deixar de ser um dos mais pobres do mundo e, em apenas 70 anos, se tornou a segunda potência mundial, retirando mais de 850 milhões de pessoas da pobreza neste processo.
A melhoria das condições de vida do povo chinês depois da revolução foi tão grande, que a China sozinha contribuiu para a redução de mais de 70% da pobreza no mundo inteiro. Mas muitos dizem que tudo isto teve um custo muito alto: a liberdade individual.
No próximo artigo desta série veremos como funciona o regime político do país mais populoso da Terra. Não percam!