Imprensa ocidental alimenta especulação, mas só apresenta rumores, diariamente, em sua guerra econômica e de ideias com a China

por Ivan Conterno
Desde o começo do ano, o conjunto dos grandes jornais da burguesia pelo mundo têm alardeado o sumiço de mais de 2 meses de Jack Ma. Além de ser o segundo homem mais rico do país, o empresário de maior destaque da China estrelou um curta-metragem de kung fu, cantou ao lado da diva pop chinesa Faye Wong e pintou com o maior artista da China, Zeng Fanzhi. Entretanto, esse sucesso também é dirigido a propagar campanhas políticas. Jack Ma defende abertamente a jornada de 72h semanais de trabalho na China, proposta que já foi vetada pelo governo.
Nos últimos meses, os agentes reguladores da China teriam examinado possíveis riscos associados à expansão do setor financeiro do grupo empresarial de Jack Ma. Em seguida, o governo lançou uma investigação antitruste contra o conglomerado. O Grupo Alibaba, de Jack Ma, é a maior empresa de internet da China e opera na área do comércio eletrônico desde 1999. Esse grupo é bastante conhecido no Brasil através da Aliexpress.
Segundo os investidores, Ma era um empresário em contato direto com o mercado global e tinha o poder de enfraquecer o governo chinês. No seu último discurso na cúpula de Xangai, Jack chamou os reguladores do governo de “velhos” que não entendiam a internet e estariam barrando o impulso à inovação. Com o conflito instaurado, o governo teria recomendado que ele não deixasse o país.
A briga teria começado dias antes de uma nova abertura do capital do grupo com papéis negociados na bolsa de valores ser barrada. Segundo os agentes reguladores do governo, ela prejudicaria o pequeno comerciante e o consumidor, já que o monopólio é um dos fatores de superfaturamento de produtos e serviços.
Em seguida, a Administração Estatal de Regulação do Mercado da China divulgou em novembro uma proposta para barrar o monopólio dos sites de comércio eletrônico. O objetivo seria barrar alguns métodos adotados por empresas como as de Jack Ma. Além disso, o projeto deveria investigar se essas empresas tratam os clientes de maneira diferente de acordo com dados coletados dos usuários, como a capacidade de pagamento, as preferências do consumidor e seus hábitos.
Essas medidas foram consequência do apontamento feito pelo Comitê de Estabilidade Financeira e Desenvolvimento da China em outubro, que sugeriu a necessidade de melhorar os mecanismos de fiscalização antitruste. O objetivo seria evitar também que essas empresas restringissem marcas de vender seus produtos em diferentes plataformas. Por esse motivo, a bolsa de valores de Xangai suspendeu o recebimento de novos acionistas do grupo Alibaba no início de novembro.
O empresário teria oferecido o braço financeiro do grupo ao governo a fim de encerrar o conflito. Jack Ma também havia feito pelo menos três visitas aos reguladores e reconheceu a necessidade de aumentar a supervisão. O órgão fiscalizador da Indústria e Comércio teria cedido, informando que as opiniões de algumas autoridades não eram compartilhadas pelo governo, encerrando o conflito momentaneamente.
As opiniões de Jack Ma aparentemente não condizem com os planos do Partido Comunista Chinês, mas os dirigentes mantêm relações amistosas com o empresário. O ano de 2021, no entanto, marcará o começo do novo Plano Quinquenal chinês, o que deve mudar a relação do governo com o setor empresarial. A nova década que se inicia também deve consolidar a China como a maior economia do mundo. O país deve ultrapassar o PIB dos Estados Unidos em 2028 segundo as previsões mais recentes da consultoria britânica Centre for Economics and Business Research.
No final de dezembro, após uma conferência de três dias, o Pensamento de Xi Jinping sobre a Economia Socialista com Características Chinesas para uma Nova Era foi adotado como ideologia oficial do Partido Comunista Chinês e deve tomar forma a partir do novo plano quinquenal. O plano visa impulsionar o desenvolvimento da política socialista com características chinesas de Xi Jinping. Isso significa incentivar a inovação, o desenvolvimento ecológico e a expansão da economia chinesa para o mundo de maneira solidária.
Há duas décadas, a China aparentava ser apenas um parque industrial subordinado às empresas dos Estados Unidos. Nos últimos anos, o país socialista inverteu essa relação. O avanço tecnológico da China superou o do ocidente, desenvolvendo a tecnologia 5G, fusão nuclear, redes quânticas, tecnologia aeroespacial e carros elétricos. A capacidade de investir em ciência e tecnologia nos regimes burgueses, ditos democráticos, acabou após a crise de 2008. Os chineses, no entanto, estão só começando.
O sumiço do empresário, por ora, é apenas especulação da imprensa ocidental. Na guerra econômica e de ideias entre Estados Unidos e China, as agências burguesas do ocidente utilizam esse factoide como ingrediente para colocar em dúvida o regime do Partido Comunista Chinês, que a essa altura representa uma ameaça aos seus interesses.