Crescimento do PIB, redução da desigualdade, menor desemprego e aumento da produção de petróleo: os números, dados e fatos refutam a fantasia direitista

por Luca Uras
À época do impeachment da ex-presidente Dilma Roussef, ou então nas eleições de 2018 ou mesmo agora, quando as pré-campanhas de 2022 acabaram de começar, uma frase específica domina o debate na política brasileira: “O PT quebrou o Brasil” (ou alguma de suas variações como: “O Lula quebrou o Brasil”). Colocar a culpa da crise que se deflagrou em meados de 2016, e dura até hoje, no governo Lula/Dilma é certamente conveniente para a direita, mas não é, contudo, uma estratégia honesta. Juliane Furno, em sua coluna no Brasil de Fato, faz um desafio que refuta de forma rápida e sucinta essa falácia neoliberal: “aponte apenas UM índice econômico que tenha piorado nos governos do PT”.
Diferentemente da direita, que, é necessário admitir, é extremamente criativa na hora de ser desonesta, a esquerda se propõe a analisar os dados e, a partir da ciência e da realidade, fazer suas constatações. Usando índices econômicos do Centro de Altos Estudos Brasil Século XXI, é possível ter um panorama do que realmente se passou durante os 13 anos do governo petista.
A Década Dourada: Governo Lula e início do Governo Dilma
Antes de analisar os dados, é interessante fazer uma separação dos períodos do governo do PT. Por mais que os fenômenos que serão analisados possam ser constatados durante todos, ou quase todos os 13 anos, a primeira década (que compreende os dois mandatos de Lula e o primeiro de Dilma) foi o momento em que o Brasil realmente cresceu. Também é interessante olhar mais de perto o governo de Lula por conta de sua já confirmada participação na próxima eleição presidencial, tendo em vista que os ataques daqui para frente se concentrarão exatamente no período em que foi presidente. Feitas as devidas considerações, aos dados:
O índice mais importante de ser observado quando se trata de economia é o Produto Interno Bruto, que corresponde à soma de todos os produtos e serviços produzidos por um país ao longo de um ano. O PIB do Brasil era de 5 trilhões de reais em 2003. Ao final de 2013 já estava na casa dos 7,5 trilhões, um aumento médio de 3,5% ao ano. Além disso, o PIB per capita (PIB dividido pela população do país) atingiu seu ápice em 2013, 37,3 mil reais. O dado mais recente, de 2019, coloca o PIB per capita atualmente na casa dos 34,5 mil reais.
Outro ponto de suma importância ao fazer esse tipo de análise está ligado ao emprego e o consumo. Quantos estão desempregados, quantos têm emprego com carteira assinada, o consumo das famílias e a inflação. Indo por partes, primeiro a situação do emprego: em questão de desemprego, o Brasil saiu de uma taxa de quase 11% no início do governo petista para uma baixa histórica de 4,7% em 2011, e fechou a década analisada com um pouco mais de 6%. O número de trabalhadores com carteira assinada também é digno de menção. Em 2013, de 79 milhões de profissionais empregados na iniciativa privada, 35 milhões deles estavam na formalidade, enquanto em 2019, eram quase 82 milhões de empregados, mas apenas 33 milhões deles tinham carteira assinada.
Seguindo a análise e olhando agora para o consumo das famílias, vemos também um considerável aumento (ver o gráfico abaixo). Para que isso acontecesse, aumentou-se a massa salarial e, a partir de 2004, a inflação foi sempre mantida abaixo do limite superior da meta. Saindo um pouco do campo teórico da economia, isso significa, em termos reais, uma verdadeira melhora na condição de vida dos trabalhadores. Houve também uma diminuição considerável da desigualdade: o coeficiente de Gini, que relaciona a renda dos mais pobres com a renda dos mais ricos, foi de 0,580 a 0,527, e a taxa de pobreza passou de mais de um quarto da população para um décimo.
Falando em melhorias de qualidade de vida dos trabalhadores, os programas sociais empreendidos pelo PT não podem ser deixados de lado. Entre as principais políticas públicas, podemos citar o Programa Luz para Todos, que beneficiou 15 milhões de pessoas e, para 92,9 dos entrevistados, representou algum tipo de melhoria na qualidade vida. O Minha Casa, Minha Vida, mais um programa de suma importância, entre 2009 (ano de sua criação) e 2013, entregou mais de 1 milhão e meio de unidades habitacionais. Por fim, vale lembrar que, no ano de 2014, o Brasil saiu do mapa da fome, isso por conta de uma diminuição de 82% na população brasileira subalimentada no período de 2002 a 2013.
A “Grande Recessão Brasileira”: o governo de Dilma e o golpe
O mito de que Lula “quebrou o Brasil” parece ter sido construído em cima de pilares de sal, afinal só uma rápida análise dos dados da economia brasileira já é suficiente para esfacelar completamente essa falácia neoliberal. O problema, agora, se concentra mais à frente na história, de 2014 a 2016, nos últimos anos do governo de Dilma e na “grande recessão”, que, teoricamente, teria sido causada por ela.
O que aconteceu durante o Governo Dilma é uma questão muito mais complexa do que a direita faz parecer. Por conta da herança de uma ótima economia do Governo Lula, o Brasil, ainda de 2011 a 2014, experimentou um crescimento econômico considerável. No entanto, a ex-presidente buscava sanar algumas das contradições, principalmente os altos juros, da política econômica do governo petista. Para isso, implementou a Nova Matriz Econômica, que diminuía as taxas de juros na esperança de aumentar os investimentos. Como o gráfico abaixo mostra, isso não aconteceu e, pelo contrário, a Formação Bruta de Capital Fixo diminuiu. Aliado à falta de investimentos, Andrey Assis Silva bem aponta que o PIB brasileiro, enquanto Dilma esteve no governo, “acompanhou o ritmo de queda das economias avançadas”.
Outra questão que não pode ser ignorada é que, por conta do desgaste de Dilma com o Congresso, o executivo acabou refém dos parlamentares, que se mostraram nem um pouco interessados em cooperar com a ex-presidente. Na prática, a partir de 2015, quem governava o Brasil e tomava as decisões sobre a política econômica eram Eduardo Cunha e seus aliados. Essa situação, como bem sabemos, culminou no golpe de 2016, porém, como a história é escrita pelos vencedores, Dilma acabou como a culpada pela recessão.
O PT e a Petrobrás
Uma das principais acusações desferidas pela direita é que o PT seria responsável por quebrar uma das estatais mais importantes do país, a Petrobrás, com seus esquemas de corrupção e má gestão. Mais uma da longa lista de mentiras que não sobrevive a uma análise crítica baseada nos dados econômicos do período do governo petista.
Primeiramente, deve-se notar que a produção de petróleo da Petrobrás cresceu significativamente durante os governos de Lula e de Dilma (gráfico abaixo). Esse dado é importante ser apresentado logo no início para provar que o problema não era de falta de produção, mas sim da política econômica de gestão da empresa. Fora isso, entre 2010 e 2014, foi tomada a decisão de manter os preços internos abaixo do preço internacional, apesar de uma elevação no preço mundial do petróleo. O fruto de tal estratégia foi positivo, e a Petrobrás registrou uma geração de caixa de 28 bilhões de dólares em 2010 e de 33 bilhões em 2011. No entanto, a partir de 2016, ficou decidido que o preço seria elevado para acima dos internacionais e a empresa acaba perdendo o mercado interno e não consegue mais gerar caixa, mesmo com uma maior produção de petróleo, por conta de suas refinarias ociosas. Não é loucura concluir, então, que o que causou o prejuízo na Petrobrás foi uma má gestão interna, não o governo do PT.
Diferente da direita, os índices não mentem
Mesmo que o governo do PT tenha tido suas falhas, ainda mais quando analisado de uma perspectiva da esquerda, é completamente absurdo dizer que os petistas “quebraram o Brasil”. Essa afirmação não passa de uma mentira deslavada e uma completa inversão de valores por conta da extrema-direita, que busca, a todo custo, desfazer o progresso atingido por Lula e Dilma durante os 13 anos em que governaram o país.
Uma simples análise dos gráficos de qualquer índice econômico prova que o governo petista foi um dos mais importantes da história do país em questão de crescimento econômico e redução de desigualdade. Além disso, foi o último governo que tinha algum tipo de projeto de desenvolvimento nacional, pois, como vimos com as gestões desastrosas de Temer e Bolsonaro, marcadas pela caça aos direitos trabalhistas, políticas econômicas genocidas e a desindustrialização do país, o interesse da burguesia agora se encontra em tornar o Brasil subserviente às potências mundiais imperialistas, principalmente os EUA.
Que fique clara a roubada em que os brasileiros se meteram, seja pela situação da nossa economia, que hoje se encontra em ruínas, seja pelos reflexos do neoliberalismo no “mundo real”, com a volta do Brasil ao mapa da fome e a alta histórica do desemprego. Parece que, no final, não era “só tirar a Dilma”, e foi o povo que acabou “pagando o pato”.