O assassinato de Marcelo Guimarães pela polícia e a luta de classes

Marcelo Guimarães foi mais uma vítima da PM no Rio de Janeiro, conhecida por suas balas perdidas que só encontram pobre

Imagem: ilustração “Chão, chão” por Hadna Abreu
por Joaquim Nogueira

De acordo com o livro “Os Despossuídos”, de Karl Marx, na Alemanha do século XIX, discutia-se, em um parlamento chamado Dieta Renana, uma lei sobre o furto de madeira. Os deputados da classe dominante alemã empenhavam-se para criminalizar uma atividade praticada, exclusivamente, por pessoas paupérrimas: a colheita de galhos secos caídos nas florestas da região.

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Os proprietários das florestas, (sim, as florestas tinham donos!) representados por seus deputados, alegavam que a colheita desses galhos secos pelas pessoas pobres constituía uma forma de roubo praticado às escondidas – o que chamamos de furto. A quem se estaria furtando uma vez que os galhos estavam secos, caídos de suas árvores e não teriam para os donos das florestas o mesmo valor material que tinha para os famintos? Não se tratava de coibir o furto, mas de afirmar a santidade da propriedade, seja lá do que for, propriedade é sempre algo sagrado, desde que seja propriedade burguesa.

E para se combater a prática, definida como crime pelo parlamento renano, os proprietários obtiveram o direito de contratar uma espécie de guarda privada, ao estilo dos seguranças do Carrefour. A esses guardas, era incumbida a função de prender e determinar o valor da multa a ser paga pelos miseráveis apanhados “roubando” os gravetos secos e caídos. Além de multa e prisão, essas pessoas também seriam submetidas a trabalhos forçados em favor dos donos das florestas.

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Por fim, a palavra dos miseráveis não possuía valor nenhum em confronto com a palavra dos membros da segurança particular contratada pelos proprietários e, desta forma, os guardas mantinham os famintos como seus reféns e por que não seus escravos.

Como hoje

Já no Brasil, no dia 4 de janeiro de 2021, século XXI, um trabalhador foi assassinado embaixo de um viaduto da Linha Amarela, no Rio de Janeiro, nas proximidades de uma das maiores comunidades da cidade, a CDD (Cidade de Deus).

O homem, Marcelo Guimarães, de 38 anos, dirigia-se para o trabalho, após deixar o filho numa escolinha de futebol. Os moradores e pessoas que estavam passando pelo local do assassinato, no momento em que aconteceu, afirmam que não havia troca de tiros, que o trabalhador foi morto com um único disparo que partiu dos policiais que faziam a segurança do local. Faziam a segurança de quê?

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Diferentemente da versão dos moradores, que só ouviram um único disparo, a polícia militar diz que, no momento, havia troca de tiros entre “bandidos” da região e que o trabalhador foi atingido por uma bala “perdida”. Não haverá perícia para determinar de que arma o projétil partiu, não haverá investigações e ninguém irá buscar imagens das câmeras de segurança do local para tentar montar a cena do crime que ficará sem solução, uma vez que já está solucionado.

No Brasil atual, assim como na Alemanha de 1842, a palavra desses seguranças é incontestável por parte daqueles que (sobre)vivem nas periferias e comunidades. A política de terror foi, é e sempre será usada contra a classe trabalhadora com a intenção de impedir a reação dos oprimidos pelo sistema capitalista. No mesmo lugar onde é crime vender um cigarro de maconha, punido com a morte e a prisão em centros de tortura do Estado, é permitido o roubo do fruto do trabalho do pobre pelos patrões.

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O Estado burguês necessita dessa guerra contra os pobres para manter os privilégios dos muito ricos. O estado burguês usa a polícia e as forças de repressão do estado contra a população para nos manter em constante medo de reagir. A política de morte e aprisionamento é uma política de guerra contra a classe operária, trabalhadora e explorada. Por isso é necessário ter em mente que a luta é de classes.

A luta é de classes!

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Convocado pela Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência, junto com outros movimentos como Mães de Manguinhos, o ato realizado ontem (5), no local do crime, reuniu também familiares de Marcelo Guimarães.

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