O apoio aos métodos de Moro contra Lula levou ao bolsonarismo

Malu Gaspar fala em não ignorar as lições da história, deveria começar ela mesma, não persistindo no erro que nos trouxe até aqui

por William Dunne

A farsa da Lava Jato contra Lula acabou. Finalmente a parcialidade de Sergio Moro foi reconhecida, além de sua incompetência para julgar o ex-presidente. Com isso as condenações sem provas contra o petista estão anuladas e poderemos votar em Lula ano que vem. A maioria formada no plenário do STF quinta-feira (22), confirmando a decisão da Segunda Turma que declarou Moro suspeito, consolidou essa situação. Por uma série de circunstâncias, a justiça acabou prevalecendo dessa vez. Mas nem todos estão contentes. No jornal O Globo, a jornalista Malu Gaspar publicou uma coluna dizendo que “Anular processos não apaga a história”, expressando a contrariedade dos setores lavajatistas da sociedade. O homem do Power Point, Deltan Dallagnol, reproduziu a coluna em seu Twitter, endossando as conclusões do texto.

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Segundo Dallagnol, emprestando os argumentos de Malu Gaspar, é como se tivesse acontecido uma grande pizza, com a Lava Jato tendo o mesmo destino de episódios como a CPI dos Anões do Orçamento e a operação Castelo de Areia. Essa livre associação de ideias coloca Lula no mesmo balaio que corruptos notórios do passado, mas ignora os fatos objetivos da anulação das condenações. Tudo o que os defensores remanescentes da Lava Jato têm a dizer é uma repetição da propaganda preparada nos anos anteriores durante a perseguição política contra Lula. Sobre a questão da falta de provas e da parcialidade de Moro não se diz nada.

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De modo que, prevalecendo a narrativa da mídia, restariam duas opiniões em pé de igualdade. De um lado, o pessoal que acha que Lula é ladrão e que a anulação das condenações seria uma maquinação dos poderosos a favor da corrupção (como se o PT tivesse essa inserção nas entranhas do Estado). De outro, os que consideram que Moro era parcial e que Lula foi perseguido.

No entanto, não se trata de simples opinião, os detratores de Lula escolhem simplesmente ignorar os fatos objetivos dessa história. Ignoram a condução coercitiva de Lula antes de ser convidado a depor, ignoram que a defesa foi grampeada, ignoram a quantidade exorbitante de testemunhas da defesa que não foram ouvidas, ignoram a falta de provas nas sentenças de Sergio Moro, e tentam diminuir o horror de um juiz mancomunado com a acusação pelo fato disso ter sido descoberto por vazamentos ilegais (o que é uma grande ironia vindo da parte de defensores da Lava Jato…).

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Não fazem, portanto, uma defesa explícita do arbítrio. Seria difícil defender explicitamente que um juiz combine com a acusação como eles vão sacanear o réu. Essa defesa fica implícita. Implicitamente, colunistas como Malu Gaspar, e tantos outros, estão defendendo as arbitrariedades de Moro. Em nome de um suposto combate à corrupção (que revelou-se cada vez mais duvidoso, em qualquer caso), o juiz deve agir junto com a acusação, os direitos do réu devem ser atropelados, a defesa pode ser espionada etc.

Se isso fosse dito abertamente, descobriríamos que essa imprensa é muito parecida com o movimento bolsonarista. “Bandido bom é bandido morto”, disse Bolsonaro tantas vezes, querendo dizer com isso que os mortos pela polícia não deveriam ter direito à defesa e poderiam ser executados. Os militantes da Lava Jato, se não fossem dissimulados, poderiam dizer que “corrupto bom é corrupto preso”, significando, como o “bandido” da frase de Bolsonaro, que “corrupto” não é quem foi considerado corrupto depois do devido processo legal, mas quem O Globo e o Sergio Moro disserem que é corrupto com base em suas antipatias políticas e ideológicas. “Aos inimigos nem a lei”, poderia ser seu lema.

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Foi assim que O Globo ajudou o bolsonarismo a chegar ao poder. Porque esse é um método bolsonarista e antidemocrático. Malu Gaspar concluiu sua coluna dizendo que: “A história cobra um preço alto quando se ignoram suas lições. Quem paga somos todos nós”. De fato, se a lição da perseguição a Lula, com Bolsonaro como resultado, e seu trágico desempenho na pandemia, for ignorada, como O Globo, e a Globo, querem, o erro pode se repetir em 2022. A campanha bolsonarista contra as garantias legais de quem é processado pelo Estado é uma campanha a favor de Bolsonaro.

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