Não dá tempo de esperar as eleições de 2022

A mobilização popular pela solução dos problemas que assolam hoje o nosso povo, como a falta de renda e de vacinas, deve começar já

Imagem: Elineudo Meira / Fotos Públicas
por Vitor Ferreira

Com as notícias sobre o ex-presidente Lula, diversas análises estão sendo feitas, entre comemorações, entusiasmo em forma de memes etc. Essa euforia por parte dos trabalhadores e trabalhadoras NÃO-MILITANTES/NÃO-ORGANIZADOS é completamente compreensível numa conjuntura de pura tragédia, sofrimento e miséria, somado ao fato de o maior líder eleitoral do campo progressista agora estar posto como alternativa para 2022.

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Aqui não se trata de criar empolgações, quanto menos de colocar algum tipo de dúvida sobre Lula ser o candidato da esquerda e, principalmente, de achar que existe uma separação estanque entre mobilização eleitoral e mobilização de massas em luta nas ruas. Trata-se de não deixar no segundo plano do debate da militância o dever histórico de construir as subjetividades necessárias da classe trabalhadora brasileira como um todo, na perspectiva do enfrentamento imediato do governo genocida, pela volta de um auxílio emergencial digno a todos e todas, pela revogação da PEC DA MORTE/TETO DOS GASTOS, para que concretamente nosso nível de organização em 2022 de fato seja maior e mais competente nos enfrentamento certos que virão daqui até lá.

O que não pode ser aceitável é a militância organizada e mesmo a militância petista (cito em especial a petista por obviamente ter seu maior líder, reitero, como maior líder eleitoral do país, agora a disposição), dart-se ao luxo de discursar aos quatro cantos que “não vê a hora chegar 2022”. Não somente pelo fato óbvio de que até lá muita coisa pode acontecer, inclusive os direitos de Lula serem caçados novamente, Bolsonaro botar os militares nas ruas e etc. Mas é pela completa incapacidade de organização, de mobilização da classe trabalhadora brasileira, inclusive em nossas derrotas históricas no “não vai ter golpe” (e teve), no “fora Temer” (e Temer ficou), no “eleição sem Lula é fraude” e (teve eleição sem Lula fraudada).

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Objetivamente temos todos os dias recordes de contaminados, recordes de mortes, recordes de mortes dos profissionais da saúde, recordes de aumento no preço dos combustíveis, recorde de aumento no preço do gás e dos alimentos, recordes de miséria real e diferentemente dos povos irmãos de Nuesta América, como por exemplo no Paraguai, nosso povo continua em paralisa.

Não dá pra esperar 2022

Não é aceitável que se espere outubro de 2022 para se fazer algo, não é aceitável que o discurso que predomine em nossos meios de convívio seja o de esperar a próxima eleição. A decisão do Ministro Fachin parece que tirou um peso das costas dos militantes, e que agora é só fazer campanha pra eleição. É tremendamente perigoso passar essa imagem a nossa classe, de que não é preciso lutar, não é preciso se filiar num partido, nos sindicatos e nos movimentos, pois a justiça-burguesa na democracia burguesa (as mesmas que nos colocaram nessa situação) tardam mas não falham, que Fachin ou mesmo Gilmar Mendes haviam sido enganados nos processos dos golpes e na passividade para com o fascismo.

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Camaradas, a luta no campo das ideias é pra organizar nosso povo em movimento soberano e ininterrupto, para que nosso povo não somente pare de morrer sem ar e de fome, barrando e varrendo os genocidas do poder antes que se chegue aos 300 mil mortos, mas para que nosso povo possa superar todo tipo de exploração. A conjuntura não será a mesma até outubro de 2022, até lá é questão literalmente de sobrevivência arrancar mais vitórias das mãos da direita e da burguesia.

Para os infectados, para os que estão entrando em falência, para os desempregados, os subempregados e os famintos a possibilidade de uma mudança de vida, de outras perspectivas de vida a partir de uma possível vitória no longínquo 2022 não é de forma alguma suficiente. E o reducionismo do discurso eleitoral e institucional barra concretamente o avanço da consciência da classe trabalhadora brasileira em lutar e conquistar avanços antes da próxima eleição.

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Um horizonte limitado

Comemorar a vitória de Lula em ter seus direitos de volta é uma coisa, agora transferir toda responsabilidade de derrotar o fascismo e os liberais pra uma só figura, baseando-se na possibilidade da vitória final dessa figura daqui a 1 ano e 6 meses, demonstra graves problemas nos horizontes de luta e conquista, inclusive no tão falado necessário trabalho de base, pois para que a base vote ela precisa minimamente estar viva.

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Enquanto o novo não nasce em nossas formas de organização e pensamento, ficamos na torcida para alguém distante de nós fazer algo, ficamos na torcida e na esperança de que esse alguém nos traga nosso passado de volta. Mas nosso passado morreu, na realidade foi assassinado pelos mesmos golpistas e instituições a mando da velha ordem burguesa, que pode ser definida no seu agir parafraseando-se Giuseppe Tomasi: “Algo deve mudar para que tudo continue como está”.

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