O caso do “Moro” argentino dá uma pista de como funcionou o esquema para derrubar o PT no Brasil. Os gringos pagaram barato pelo golpe

por William Dunne e Bibi Tavares
Há seis anos morria o promotor argentino Alberto Nisman, sob insinuações feitas nas sombras de que teria sido assassinado a mando do governo de Cristina Kirchner. Apesar da Justiça argentina considerar o ocorrido um homicídio, os kirchneristas acreditam que ele se matou no banheiro de sua casa, e as motivações ainda precisam de esclarecimento. Kirchner era acusada pelo promotor de participar de um esquema para acobertar a participação de iranianos no atentado contra a Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA), que deixou 85 mortos e centenas de feridos, realizado em 1994.
Essa acusação alimentou de dentro das instituições, aparelhadas pela direita, um punhado de teorias da conspiração, principalmente contra a hoje vice-presidente da Argentina. Algumas dessas teorias afirmam que ela seria agente de um mirabolante plano arquitetado para beneficiar os iranianos. Outros acreditam que o assassinato foi obra de peronistas dissidentes que queriam prejudicar Cristina, ou de apoiadores que queriam agradá-la e resolveram se livrar de algo que eles considerariam um “problema” para ela.
A CIA, Mossad e o governo do Irã também foram inclusos na lista dos possíveis assassinos de Nisman. De qualquer forma, essas teorias da conspiração foram úteis durante as eleições que acabaram colocando Mauricio Macri no poder para um desastroso mandato de quatro anos.
Como Sergio Moro no Brasil, Alberto Nisman favoreceu a direita levando adiante um processo sem consistência. No caso de Sergio Moro, pelo menos por enquanto, ainda não se encontrou explicitamente um pagamento pelos serviços prestados aos gringos para substituir o governo brasileiro de acordo com interesses estrangeiros no Brasil. O que se sabe é que Moro conspirou contra seu réu, o ex-presidente Lula, junto com a acusação, conforme revelou a Vaza Jato. E que depois ele virou ministro até que, finalmente, terminou virando advogado das empresas que antes acusava e que fecharam acordos de delação premiada em seus processos. Se tudo isso não servir para colocar Moro na cadeia, ao menos deverá levar à sua suspeição em muitos casos julgados por ele.
A bufunfa ocultada por Nisman
No caso de Nisman, porém, o desvendamento da operação política está mais adiantado. O juiz Martínez de Giorgi ordenou que se investigue a evolução patrimonial de Nisman, e mandou bloquear todos os bens da família. A suspeita é de lavagem de dinheiro, e a investigação procura estabelecer a origem, por exemplo, do dinheiro que o promotor tinha em uma conta em Nova Iorque, no valor de 660 mil dólares. Além desse dinheiro, há terrenos e apartamentos espalhados pela Argentina e o conteúdo, desconhecido, de quatro cofres esvaziados por sua mãe logo após sua morte.
No meio dessa investigação toda, o sumiço de Damián Stefanini chamou pouca atenção. O empresário foi responsável por um depósito de 150 mil dólares na conta de Nisman e sumiu um tempo depois, em 2014. Por coincidência, a juíza que ficou com a investigação desse caso foi Sandra Arroyo Salgado, ex-mulher de Nisman.
Além de todo esse patrimônio, o promotor argentino teria também uma conta secreta no Uruguai, em que teria recebido 280 mil dólares provenientes de Israel. O dinheiro teria sido enviado de maneira clandestina por Sheldon Adelson, bilionário que morreu na última segunda-feira (11), aos 87 anos, e que foi um dos principais financiadores da candidatura de Donald Trump, nos EUA, e de organizações de direita que visavam promover a “democracia”.
O caso do “Moro” argentino dá uma pista de como funcionou o esquema para derrubar o PT no Brasil. Os gringos pagaram barato pelo golpe. Talvez nunca saibamos tudo o que o Moro daqui recebeu em troca daquela perseguição, mas o que ele ganhou diante de todos é de conhecimento público, como o posto de ministro e seu atual emprego.
O resultado da guerra judicial e midiática contra o PT está aí: incompetência no enfrentamento da pandemia, perda de direitos trabalhistas, perda da aposentadoria, liquidação do patrimônio público com as privatizações, empresas fechando e indo embora, desemprego, inflação, dólar alto e Bolsonaro. Resta saber se a esquerda brasileira terá forças para reverter esse quadro, como na Argentina e na Bolívia.
Muito provavelmente Nisman foi assassinado para que jogassem a responsabilidade de sua morte sobre Cristina. Os inimigos dela, sabendo que o relatório de Nisman não apresentava provas , decidiram usá-lo de outra maneira. Além disso, queimaram um arquivo vivo muito perigoso para eles!