Isa Penna e Freixo: unidos pela vontade de sabotar a esquerda

Querendo justificar o injustificável, figuras da esquerda confirmam presença no ato pelo Fora Bolsonaro, convocado pelo MBL e PSDB, inimigos de longa data da população

Presenças indigestas confirmadas no ato do MBL dia 12
por Bibi Tavares

Uma coisa há de bom na convocação dos atos de Fora Bolsonaro que acontecerão neste domingo (12), organizados pelo MBL, aquela organização que encabeçou o golpe de 2016 junto com Eduardo Cunha e que ajudou a eleger Jair Bolsonaro. Graças a eles, ficou mais claro do que nunca quem realmente está ao nosso lado na trincheira, e, mais do que nunca, isso é o que realmente importa. Por mais que o espectro da esquerda acolha os mais variados tons de organizações, das mais flexíveis até as mais radicais, não devemos nunca confundir quem somos, o que queremos e de que forma pretendemos atingir nossos objetivos. Voltando ao ato convocado para este domingo, algumas figuras consideradas de esquerda confirmaram presença através das mais rasas e patéticas justificativas.

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Ciro Gomes, por exemplo, disse que, em nome da democracia, se sente na obrigação de ir aos atos de Fora Bolsonaro, coincidentemente ou não, justo quando é a direita que está convocando a manifestação. Desde o início do governo Bolsonaro, centenas de manifestações foram convocadas, após o começo da pandemia, a intensidade e urgência desses atos se fez mais visível, mas, só agora, Ciro resolveu defender a democracia. Podemos continuar fingindo que ele não está tentando se associar ao que for preciso para cavar, de forma bem oportunista, uma boa posição nas próximas eleições presidenciais.

Outro nome que vem gritando aos quatro cantos que a esquerda deve sim somar forças no ato do MBL é a deputada estadual Isa Penna (PSOL). Indo contra a orientação oficial do próprio partido, Isa Penna assumiu um tom infantil típico de menina mimada e com argumentos que beiram o “se todo mundo vai à festa, por que eu não posso ir?” Segundo ela, a única coisa que tem em comum com o MBL é a vontade de chutar o Bolsonaro pra fora da presidência, mas desde quando significa ser inteligente dividir o mesmo ato com as mesmas pessoas que caluniaram Marielle, companheira de partido de Isa Penna – imagine se não fosse -, debochando de sua morte?

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Não basta dizer que respeita o “ranço” que a esquerda tem do MBL, muito menos faz algum sentido dizer que tem zero afeto de sua parte. O que ela estava esperando por dizer o óbvio; era pra ter algum afeto entre eles? Deus que defenda quem votou em alguém que desperdiça uma excelente oportunidade de praticar a reflexão e o materialismo histórico dialético. O Fora Bolsonaro do MBL, MDB, PDT, PSDB e todas essas organizações e partidos de direita nada tem a ver com o Fora Bolsonaro da esquerda. Do lado de lá, o lado que promoveu a ascensão de Jair Bolsonaro achando que conseguiria manipulá-lo ou, pelo menos, mascarar seus ímpetos fascistoides, jaz um profundo sentimento de decepção. Mesmo assim, se Bolsonaro não fosse esse poço de ignorância, sem etiqueta e linguarudo, MBL e derivados não poupariam esforços para mantê-lo na presidência, a fim de que a agenda neoliberal seja fielmente seguida. Acontece que, por mais que Bolsonaro seja adepto dessa agenda da morte, ele arranha o verniz democrático que seus antecessores trabalharam duro para criar e parecer que estava tudo bem, instituições funcionando e direitos individuais garantidos. Nem isso ele soube manter.

Não contente com a chuva de críticas que recebeu, Isa Penna ainda teve a audácia de soltar um “mas e o PT?”, lançando a seguinte enquete:

Peleguismo sobre tela

Às vezes é um pouco angustiante acreditar que a esquerda se utiliza, até hoje, desse tipo de argumento pra justificar as decisões repugnantes que toma. Se o Lula comer cocô, tudo bem a gente tomar xixi? A lógica é mais ou menos essa, segundo a deputada do PSOL. Por mais críticas que tenhamos sobre a frente ampla e alianças com a burguesia, o PT, além de já ter dito que não vai ao ato dia 12, é o partido que elegeu Lula duas vezes. Lula foi um chefe de estado, e como tal se reuniu com todo tipo de gente e sabe como fazer isso até hoje, mesmo assim, as justificativas do ex-presidente ainda são totalmente plausíveis em comparação com as da Isa Penna. Se Lula resolve fazer uma aliança com Michel Temer, é nosso dever nos contrapor a essa decisão e não se sentir no direito de ir almoçar com Eduardo Cunha. Não adianta querer superar Lula cometendo os mesmos erros conciliatórios dele.

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Outro indivíduo que está contando os dias para confraternizar com sua ex-colega de partido e o MBL é Marcelo Freixo. Esse dispensa comentários, sua posição direitista não é surpresa pra ninguém, escorado na morte de Marielle, vive pra cima e pra baixo defendendo a polícia, um dos principais aparatos de repressão do Estado. Até foto elogiando o trabalho de policial militar ele faz:

Passação de pano sobre tela

Eu não sei onde Freixo mora, mas aposto que não é onde a PM tira a vida e desova corpos de jovens periféricos. Aliás, eu nunca vi morador de favela tirando foto com PM pra agradecer a tranquilidade das diárias trocas de tiros e mortes por balas “perdidas” no morro. Esse tipo de atitude se assemelha à direita, que não perde uma oportunidade de tirar uma selfie com PM em manifestação coxinha. Quanto aos atos da esquerda que ocorreram no Brasil todo no 7 de setembro, Marcelo Freixo fez questão de lançar um alarmismo histérico e sem sentido, desestimulando as pessoas a comparecerem nos atos de Fora Bolsonaro, anunciando uma baderna que, na verdade, só poderia vir do lado da direita.

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Outras organizações como PCdoB e UNE também confirmaram presença na ato deste domingo (12). Seja como for, independentemente da justificativa, somar no ato do MBL é inaceitável. Aliás, é tentar justificar o injustificável. Movimento Brasil Livre, PSDB e seus derivados querem tirar o Bolsonaro para colocar no lugar alguém que cumpra a agenda neoliberal de privatizações e reformas, mas que o faça de forma mais polida, sem sair por aí falando que odeia LGBTs, que indígena não tem que ter direito à terra, que quilombola é inútil, que mulher é incapaz e que pobre tem que ser esfolado, se não de trabalhar, levando coça da PM.

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É imprescindível que a esquerda tenha seus objetivos mais claros do que nunca e que eles não se percam, desviem ou se confundam com as ardilosas manobras da direita. O MBL grita Fora Bolsonaro agora porque pretende sequestrar os atos para si e empurrar a terceira via mais neoliberal que estiver disponível. Dividir ato com esse sujeitos é levar a esquerda ao fracasso e a derrubada do presidente aos braços da direita cinicamente arrependida.

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