Feito científico soviético colocou o país socialista à frente dos EUA na corrida espacial e abriu uma nova fronteira de conhecimento para a humanidade

por Coletivo Pensar a História
Há 60 anos, em 12 de abril de 1961, o cosmonauta soviético Yuri Gagarin se tornava o primeiro ser humano a viajar pelo espaço, a bordo da espaçonave Vostok 1, acoplada ao foguete lançador Soyuz-R-7.
O programa espacial da União Soviética tem como marco inicial as teorias sobre exploração espacial desenvolvidas por Konstantin Tsiolkovski, que serviram de base para uma série de experimentos conduzidos pelo Grupo de Estudos de Propulsão Reativa (GIRD no acrônimo russo) nos anos trinta. O centro de pesquisas reuniu alguns dos pioneiros da astronáutica soviética, tais como Sergei Korolev e Friedrich Zander, e foi responsável por criar o GIRD-X, o primeiro foguete soviético movido a combustível líquido, lançado em 1933. Em meio à Segunda Guerra mundial, a União Soviética logrou importantes avanços no campo dos estudos sobre propulsão reativa, incluindo o desenvolvimento do lançador de foguetes Katyusha.
Após o fim do conflito, teve início a polarização da Guerra Fria, impulsionando a corrida armamentista e o desenvolvimento dos programas espaciais da União Soviética e dos Estados Unidos. As duas nações estabeleceram forte concorrência pela primazia da exploração e do desenvolvimento da tecnologia aeroespacial – vista como estratégica para o desenvolvimento dos sistemas de defesa e de segurança nacional das duas superpotências. A União Soviética passou a se dedicar ao desenvolvimento de foguetes espaciais e criou o R-1 – um míssil balístico de curto alcance.
Em 1957, os soviéticos saíram à frente na corrida espacial e armamentista com duas importantes inovações: o R-7 Semyorka e o Sputnik 1. O R-7 Semyorka era o primeiro míssil balístico intercontinental do mundo, capaz de percorrer quase 9.000 quilômetros. Já o Sputnik 1 era o primeiro satélite artificial posto em órbita na história. Dando sequência aos investimentos em pesquisa aeroespacial, a União Soviética lançou em 1959 a sonda Luna 1, primeira espaçonave a se aproximar da superfície lunar. Em seguida, lançou o Programa Vostok, que visava criar espaçonaves tripuladas para levar, pela primeira vez, a humanidade até o espaço.
O Programa Vostok produziu vários protótipos entre maio de 1960 e março de 1961, até chegar à Vostok 1. A espaçonave consistia em uma cápsula com 2,3 metros de diâmetro e peso de 2.460 quilos – sendo 837 quilos referentes apenas à massa do escudo protetor de calor da fricção. O formato foi escolhido de forma a diminuir a exposição da superfície externa. Seu sistema de propulsão ainda era limitado, o que dificultaria o controle da navegação no retorno à Terra. A espaçonave foi projetada para transportar apenas um tripulante. Com peso e altura ideais e excelente desempenho nos testes físicos e psicológicos, o tenente da Força Aérea Yuri Gagarin foi selecionado para a missão.
O lançamento ocorreu em 12 de abril de 1961, no Centro Espacial de Baikonur, no Cazaquistão. Impulsionada pelo foguete lançador Soyuz-R-7, a espaçonave Vostok 1 atingiu uma altitude de 315 quilômetros a partir da superfície terrestre. Gagarin deu uma volta completa em torno da órbita da Terra, voando a 28 mil quilômetros por hora durante 108 minutos. “A Terra é azul”, registrou Gagarin, observando o planeta do alto. “Através da janela, eu vejo a Terra. O chão é claramente identificável. Eu vejo rios e as dobras do terreno. É tudo tão claro”.
Em função das restrições de peso da cápsula, a Vostok 1 não tinha retrofoguetes de reserva. Gagarin tinha provisões para dez dias, para garantir sua sobrevivência no caso de falha do único retrofoguete, até que a cápsula retornasse à Terra por inércia. Não foi necessário. O sistema de propulsão conseguiu conduzir a espaçonave pelas camadas densas da atmosfera até a trajetória de descida. Quando a cápsula estava a sete quilômetros de distância do solo, já desacoplada do compartimento dos instrumentos, Gagarin saltou de paraquedas. Um erro no cálculo da trajetória de retorno fez com que o cosmonauta aterrissasse a 320 quilômetros de distância do local previsto. Felizmente, foi a única falha em todo o processo.
O feito inédito colocou os soviéticos na dianteira da corrida espacial. Gagarin foi condecorado como Herói da União Soviética e converteu-se em uma das personalidades mais famosas e queridas do mundo. Logo após a viagem, o cosmonauta passou a viajar pelo mundo inteiro como representante da “Missão de Paz” da União Soviética, que visava promover a tecnologia espacial do país e estreitar suas relações com as nações do mundo. Em todos os lugares em que ia, Gagarin era recepcionado com carinho pelas multidões e agraciado com honrarias por chefes-de-Estado. O presidente John F. Kennedy ficou tão incomodado com popularidade do cosmonauta soviético que o proibiu de visitar os Estados Unidos. Na imprensa estadunidense, a reação variou da ironia ao melindre mal disfarçado, com doses cavalares de anticomunismo e relativização do feito, além de artigos histéricos que insuflavam o temor das massas sobre como os comunistas pretendiam utilizar a tecnologia aeroespacial.