Para o grande capitalista estadunidense, a invasão da Ucrânia tem potencial para destruir nossa civilização, preferindo que o título de país assassino continue com os EUA

por Alexandre Lessa da Silva
Em um artigo recente, George Soros fala de Putin, da guerra na Ucrânia e do risco de uma nova guerra mundial. Evidentemente, o bilionário húngaro-estadunidense de 91 anos faz duras críticas ao líder russo Vladimir Putin e ao presidente chinês Xi Jinping, chegando mesmo a afirmar que “a invasão da Ucrânia pela Rússia em 24 de fevereiro foi o início de uma Terceira Guerra Mundial que tem o potencial de destruir nossa civilização”, um exagero como o futuro breve demonstrará.
Os mesmos argumentos e narrativas contra o presidente da Rússia, que todos já ouviram ou leram na grande mídia corporativa mundial, são encontrados no artigo de Soros: a crueldade de Putin, a extrema violência usada para atacar a capital da Chechênia (Grozny), a sua “loucura” com a “ideia fixa” de deixar sua marca na história da Rússia e sua suposta “perda de contato com a realidade”, desejando se tornar uma espécie de novo czar do povo russo. Enfim, Putin é descrito como um autocrata desumano, com delírios de grandeza e um sadismo quase sem fim, nada fora do roteiro estadunidense.
Soros também faz apelos aos horrores da guerra, apelando para o lado sentimental de seus leitores, mas o que mais chama atenção é sua preocupação com a relação entre o presidente russo e o líder chinês. Xi Jinping é descrito como um autocrata sem muitas preocupações em perder seu poder, e que vê em Vladimir Putin um aliado essencial para a concretização de seus próprios planos. Apesar disso, resolve plantar uma semente da discórdia entre os dois, dizendo que “Xi parece ter percebido que Putin se tornou desonesto” sem, contudo, ter apresentado nenhum argumento para isso. A grande preocupação de Soros, entretanto, é apresentada rapidamente por Soros: um documento firmado entre China e Rússia que, segundo ele, é mais forte que um tratado e consolida uma forte aliança entre os dois países. Não é surpresa que Soros se preocupe com isso, uma vez que se trata da união da segunda economia do mundo com a segunda maior potência militar do planeta. Aprofundando ainda mais essa união, pode ser constatado que também é a reunião de um grande produtor de commodities com uma grande potência industrial, gerando uma grave ameaça à liderança mundial estadunidense.
Há outros pontos preocupantes no texto de Soros. A defesa intransigente da “revolução colorida” que ocorreu na Ucrânia em 2014 e derrubou o presidente eleito Viktor Yanukovych, aliado de Putin, um fato social criado pelos Estados Unidos e seus aliados, já com o objetivo de enfraquecer a Rússia e fortalecer a OTAN, criou os motivos defendidos por Putin para o início da guerra atual. Entretanto, Soros trata tudo isso simplesmente como um desejo do próprio povo ucraniano, uma “revolução das massas”, o que passa bem longe do que de fato aconteceu.
Sem dúvida, o que mais chama atenção de qualquer leitor progressista do artigo de Soros é sua total falta de preocupação em afirmar, de maneira direta, que é um dos responsáveis pela queda da União Soviética e no socialismo do Leste Europeu.
Primeiro, estabeleci uma fundação em minha Hungria natal e depois participei ativamente da desintegração do império soviético. Quando Mikhail Gorbachev chegou ao poder em 1985, a desintegração já havia começado. Criei uma fundação na Rússia e depois fiz o mesmo em cada um dos estados sucessores. Na Ucrânia, estabeleci uma fundação antes mesmo de se tornar um país independente.
Aqui, Soros quase que diretamente desmenti toda sua narrativa liberal de uma revolução popular que brota no seio de um povo, como no caso ucraniano. Pelo contrário, só confirma a doutrina da guerra híbrida, empregada pelos Estados Unidos, e dá demonstrações da nova forma que a ideologia do Império estadunidense vem sendo trabalhada para desestabilizar países com líderes também considerados um empecilho para os interesses da maior potência global, como aconteceu com o Brasil em 2013.
Baseado em seu professor, o filósofo liberal Karl Popper, Soros fala de uma “sociedade aberta e seus inimigos”, pautada pela democracia e pela liberdade, chegando a dar o título de “sociedade aberta” a sua fundação (Open Society Foundations). Entretanto, cabe perguntar que sociedadade é essa, uma vez que a liberdade é gigantesca para uns poucos, capazes até de mudar a vontade de um povo, e extremamente pequena para a maioria. Em um de seus livros, Em defesa da Sociedade Aberta, Soros se apresenta como um filantropo, defensor da democracia dentro de uma sociedade aberta e um baluarte da luta pela liberdade. Essa filantropia, de que fala Soros, é tomada como sendo uma “filantropia política”, favorecendo os ideais de sua tão sonhada sociedade aberta. Todavia, o que o discípulo de Popper que, aliás, no campo filosófico não faz mais que reorganizar as ideias do mestre, quer é estabelecer o ideário liberal dos Estados Unidos como o único conjunto de valores válidos para o mundo e, ao mesmo tempo, defender os interesses do status quo mundial. Apesar disso, Soros e sua fundação
Afinal, há algo de positivo em George Soros? Certamente há, basta olhar a lista de seus principais financiamentos no Brasil para achar algo de positivo. Entretanto, a questão é não se deixar enganar e saber quais são os objetivos reais de seu trabalho. Certamente, esses objetivos estão longe dos interesses dos povos dos países mais pobres, como o Brasil. Por isso, é necessário também levar em conta essa variável, pois Soros representa toda a política de Biden e, com isso, terá uma forte influência em tudo que ocorrerá em 2022.