“Formou-se você em São Paulo, no coração mesmo dessa nova classe”

Nesta semana, o Partido dos Trabalhadores completa 41 anos de luta, avanços e provações, sempre cheio de motivos para existir

Imagem: casa.da.photo
por Matheus Dato

Certa feita, o Partido Comunista Português passou a ser acusado de estar fechado em si mesmo, isolado e fazendo a sua política por detrás de grossas paredes de cimento, sem que a classe trabalhadora ou o povo português fosse capaz de ver o que passava em seu interior. Coube ao histórico líder comunista Álvaro Cunhal (1913-2005) escrever “O Partido com Paredes de Vidro”, um belo texto em defesa de sua organização – o intuito do título fica claro, era preciso mostrar ao mundo que o partido permanece aberto àqueles que lutam.

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No dia 10 de fevereiro de 1980, surge no Brasil uma nova força política, um novo instrumento de classe que proclamou às massas, horrorizadas e combalidas por uma ditadura, que não haveria possibilidade de uma “democracia sem socialismo” e que chegara o momento de todos os explorados e oprimidos se organizarem em seu próprio partido, sem patrões. Lá se vão 41 anos desde que brotou a primeira rosa de uma nova primavera.

Para entender o que significa mais um aniversário como este, é necessário o esforço de abrir as janelas da História para que surja um PT cristalino, com paredes de vidro.

O Partido dos Trabalhadores nasceu e foi gestado pela luta popular de um país dependente, de capitalismo atrasado e tutelado pelo imperialismo da vez. É resultado da superexploração da mão-de-obra do proletariado norte-nordestino, do ciclo de crescimento capitalista especulativo da ditadura empresarial-militar e do massacre campesino promovido pelo latifúndio. Ao mesmo tempo, o Partido dos Trabalhadores é filho da necessidade de manter o socialismo vivo em meio à maior ofensiva imperialista desde a Guerra do Vietnã.

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Os seus limites programáticos, os recuos de sua política e os problemas táticos e estratégicos que se mostraram os erros dominantes da política petista na segunda metade da década de 90 nunca deixaram de enfrentar a resistência e a força de uma base militante que, depois de tanto anos, ainda permanece comprometida com a causa da revolução e de um partido independente para as massas. Foi na têmpera da luta de classes que se firmou uma nova maioria, organizada em torno de um novo projeto de país. A tarefa preponderante de todos aqueles que pretendem fazer do Partido dos Trabalhadores ainda maior se encontra no enfrentamento dos inimigos internos e externos que pretendem castrar este projeto, transformando a bandeira vermelha do partido em um tapete da classe dominante. Ao mesmo tempo, se impõe a realidade de rejeitar a fraseologia oca de um pseudo-revolucionarismo brasileiro que insiste em ignorar que a política das massas deve ser fruto da própria classe trabalhadora, que encara em seu partido a necessidade de construir um novo poder – o poder proletário.

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Após o golpe de 2016, a farsa de 2018 e as sucessivas tentativas de liquidação até o ano atual, o partido se deparou com o seu desafio de vida ou morte. Não é o mesmo desafio que seus inimigos tentam lhe impor: castrar a sua capacidade de luta e se transformar em ala esquerda do neoliberalismo. A sua verdadeira necessidade hoje é converter-se em partido orgânico não somente da classe em si, mas da luta revolucionária dos trabalhadores brasileiros. Nossos votos, e nossa luta, é para um partido mais democrático, radical, avançado e que seja capaz de dar continuidade aos processos históricos de superação do domínio fascista. O genocídio promovido contra o povo brasileiro chegará ao fim, e neste momento a classe dominante não encontrará lugar para se esconder da fúria popular.

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O título desta pequena reflexão foi retirado da carta de Mário Pedrosa, histórico militante socialista brasileiro e primeiro filiado do Partido dos Trabalhadores, a outro líder popular: Luiz Inácio Lula da Silva. Embora se referisse ao metalúrgico, o endereçamento cabe perfeitamente ao Partido. Finalizamos com um trecho desta missiva, que expressa o sentido profundo do ardor militante que percorre os quatro cantos deste país:

“(O PT) É um produto necessário da classe operária emergente da nova sociedade brasileira. Formou-se você em São Paulo, no coração mesmo dessa nova classe. Estou certo que outros como você se estão formando pelo Brasil todo, aos milhares, certamente às centenas; breve, estou certo, vamos todos tomar conhecimento deles. Já se ouve o reboar desse movimento de classe que sobe das profundezas da terra de Piratininga para os sertões, do Prata ao Amazonas. Esse é o movimento histórico mais importante e fecundo da hora brasileira.”
Carta aberta a um líder operário. Mário Pedrosa, 1978.

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