O ex-presidente dirigiu-se a uma multidão na praça central da cidade fronteiriça de Villazón, onde pediu confiança em Luis Arce e alertou: “A direita não dorme”

por William Dunne
Evo Morales Ayma retornou à Bolívia nesta segunda-feira (9), cruzando a fronteira entre La Quiaca, na Argentina, e a cidade boliviana de Villazón, no departamento de Potosí. O ex-presidente boliviano, derrubado ano passado por um golpe de Estado articulado pela direita com apoio da imprensa e organismos internacionais, foi recebido por milhares de manifestantes em seu país, depois de um ato de despedida na Argentina com a participação do presidente Alberto Fernández.
Ainda na Argentina, Evo Morales agradeceu ao presidente, assim como aos movimentos sociais argentinos e bolivianos, e agradeceu à solidariedade de ambos os povos que não deixaram faltar “frutas e verduras” durante sua estadia no país vizinho à Bolívia. E pontuou: “Enquanto existir o capitalismo, a luta dos povos continuará.” Fernández destacou que o povo boliviano reivindicou o projeto político representado por Evo nas eleições desse ano, e antes de atravessar a ponte entre os dois países junto com Evo, gritou: “Viva a Argentina! Viva a Bolívia! Viva a América Latina!”
Ontem (8) o novo presidente da Bolívia, Luis Arce, tomou posse. Arce foi o candidato do Movimiento Al Socialismo (MAS) nas eleições, e sua vitória, com apoio de Evo, representou a derrota do golpe da direita por meio das urnas. Houve muita mobilização para garantir a realização das eleições, com uma reunificação dos movimentos sociais em torno da oposição ao regime golpista, como explicou em entrevista a O Partisano a editora do Diálogos do Sul, Vanessa Martina Silva.
Milhões
De volta à Bolívia, Evo Morales fará uma viagem com uma massiva caravana até Chimoré, no Trópico de Cochabamba, com expectativa de chegar dia 11, marcando um ano de sua saída da Bolívia em 2019. Como disse Evo no título de seu livro lançado em agosto, “Voltaremos e seremos milhões” (citando as palavras do líder aimara Tupac Katari, capturado pelos espanhóis em 1781).
“Recuperamos a democracia sem violência”
Evo Morales discursou diante de uma multidão na praça central de Villazón. Bandeiras de todos os departamentos da Bolívia tremulavam na praça, em meio a representantes de organizações de mineiros, petroleiros e outras categorias de trabalhadores, além de movimentos como os Ponchos Rojos, de El Alto, nos arredores de La Paz.
Evo Morales pediu confiança em Luis Arce, dizendo que não interferirá em seu governo. E celebrou que a democracia tenha sido recuperada, segundo ele, “sem violência”, em um curto espaço de tempo, algo “único no mundo”. “Graças à unidade do povo boliviano”. No entanto, Evo reconheceu que “a direita não dorme”, e que “o império não para de querer nossos recursos naturais”.
O ex-presidente também respondeu a críticas feitas na época de sua saída da Bolívia, dizendo que era preciso “defender o processo de mudança”. E elogiou os movimentos sociais por não terem respondido às provocações da direita, permitindo que as eleições fossem garantidas. A realização das eleições, de fato, favoreceram ao MAS, que puderam capitalizar nas urnas o apoio popular que tem no país, retornando ao poder pelo voto.