É importante que o PT entenda esse momento e que Lula escute a vontade popular, como muito bem sabe fazer

por Alexandre Lessa da Silva
Até agora, o presidente Lula ainda não se juntou às manifestações que pedem o impeachment de Bolsonaro. Uma das desculpas, dada por Lula, é não querer transformar os atos políticos em eleitorais. Algo bem justo de se pensar, visto que o objetivo central das manifestações é a remoção do atual comandante do Executivo do poder. De fato, não é bom transformar a justa indignação com um governo que está acabando com um país para satisfazer sua ânsia de poder com o palanque eleitoral de um candidato. Entretanto, a política é dinâmica, e o que era a coisa certa a se fazer ontem, pode não ser hoje.
Eleitoralmente, Lula está com uma gigantesca vantagem em todas as pesquisas sobre o segundo colocado nas pesquisas, Jair Bolsonaro. Em algumas delas, Lula chega a ser apontado como possivelmente vitorioso no primeiro turno. Na última pesquisa eleitoral Datafolha, por exemplo, Lula vence Bolsonaro por 56% a 31%, no segundo turno, havendo um cenário que nem sequer haveria segundo turno. Portanto, Lula não precisa das manifestações para ficar caçando votos, dado que segue com uma gigantesca vantagem em relação a seus oponentes.
Outra pesquisa Datafolha demonstra que 2 em 3 brasileiros (66%) afirmam que as manifestações bolsonaristas são uma verdadeira ameaça à democracia. No que diz respeito às postagens de bolsonaristas em redes sociais, o número é praticamente o mesmo (65%), o que leva à conclusão que os brasileiros já perceberam o perigo dos ataques, reais e virtuais, dos bolsonaristas contra as instituições de Estado.
Ainda segundo o Datafolha, metade dos brasileiros afirma que há chances de Bolsonaro tentara um novo golpe, e 70% dos entrevistados acredita que o melhor sistema para o Brasil é o democrático. Também é afirmado que 76% dos brasileiros asseguram que Bolsonaro deve sofrer impeachment, caso descumpra uma ordem judicial. Nesse caso, é bom lembrar que Bolsonaro já desobedeceu à lei várias vezes, atravessando o Rubicão constitucional com seu gado. É bom lembrar que o Rubicão constitucional parece muito mais um rio brasileiro repleto de piranhas, uma vez que vários aliados já serviram como “boi de piranha” para Bolsonaro. Tal qual o vaqueiro que conduz o rebanho, Bolsonaro não titubeia em sacrificar um membro de seu rebanho para conseguir o que quer, já que não há remorso nessa horrenda figura que (des)governa o país.
O que fica evidente em todas as pesquisas é que a maioria dos brasileiros deseja o impeachment de Bolsonaro e a continuação do regime democrático, visto que ainda não perceberam que perdemos esse regime com a saída de Dilma da Presidência. Muitos falam que o impeachment é um julgamento político, o que é um erro, posto que é necessária uma questão jurídica para que o campo político possa dar início aos trabalhos. No caso de Dilma, não houve crime de responsabilidade, o que transformou seu impeachment em golpe. Já, no caso de Bolsonaro, há pelo menos 23 crimes de responsabilidades e inúmeros crimes comuns, listados até agora, o que torna seu impeachment algo necessário, impedido até agora pelo apoio que tem do Centrão. Deve ser lembrado, contudo, que a questão política não é totalmente separada da jurídica. Para tal, basta uma consulta ao Código de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados para perceber o quanto ele é ferido quando um justo processo de impeachment não é posto em votação. Infelizmente, no caso da violação do Código em questão, o julgamento é feito através dos próprios deputados (Conselho de Ética), o que quase que impossibilita a punição. Formalmente, há uma saída para isso: o Artigo 312 do Decreto Lei nº 2.848 de 07 de Dezembro de 1940 deixa claro que qualquer funcionário público que se apropria de alguma vantagem em função do cargo está cometendo um crime. Assim, caso haja alguma vantagem comprovada para não pautar o impeachment, essa lei deveria ser aplicada, mas isso está muito longe de acontecer dentro de um regime liberal, ainda mais no caso brasileiro.
Portanto, o processo do impeachment de Bolsonaro não é aberto em função de seu apoio político apenas, já que as condições jurídicas existem como nunca e a vontade popular também quer sua saída. Sendo assim, é necessária a pressão popular para atingirmos o desejo da maioria que é o afastamento definitivo do atual presidente, sendo que isso só ocorrerá com o crescimento dos protestos, já marcados para 2 de outubro e 15 de novembro.
Voltando para Lula, já é claro que Lula não precisa dos protestos para conseguir votos, entretanto, Lula deveria, nesse momento, emprestar sua força para ajudar a derrubar Bolsonaro. Com Lula, os protestos ganharão não só em número de participantes, mas em repercussão na mídia e na sociedade. Lula é o maior político vivo no Brasil e o único capaz de reunir multidões contra essa extrema-direita que destrói o país. Portanto, a participação de Lula nas manifestações supera qualquer questão eleitoral, reforçando a luta contra uma política fascista.
Por outro lado, a falta de sua presença poderá ser um tiro que sai pela culatra, pois poderia ser interpretada, como alguns já fazem, como uma preocupação apenas eleitoral.
O povo clama por Lula nas manifestações contra Bolsonaro e, agora, chegou a hora. É importante que o PT entenda esse momento e que Lula escute a vontade popular, como muito bem sabe fazer.
Bem, está feita a primeira convocação de Lula para as manifestações, confiando em sua força para promover a derrocada de todo esse castelo de lama construído por essa política fascista.