Duelo de titãs: China e Estados Unidos

Ambos apostam no poder do Estado para alavancar suas economias e mudar o mundo que conhecemos

Imagem: unsplash
por Alexandre Lessa da Silva

A agenda Build Back Better de Joe Biden começa a se materializar com a aprovação, pelo Congresso, de um projeto de lei de 550 bilhões de dólares ou 1,2 trilhão de dólares, se for contado o financiamento que normalmente é alocado, todo ano, para questões relacionadas à infraestrutura. O anúncio foi feito neste sábado (06/11) pelo próprio Biden. Apesar de bem menor que o anteriormente pedido, 2,3 trilhões de dólares, essa aprovação representa um grande investimento nos próximos cinco anos para o setor de infraestrutura estadunidense. São investimentos em estradas, pontes, ferrovias, aeroportos, portos, transporte público, veículos elétricos, segurança rodoviária, energia, água, banda larga e outros setores que impulsionarão os Estados Unidos para um nível de integração e competitividade mundial muito maior que o atual.

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O mais interessante nesse caso é que um investimento interno. Os Estados Unidos têm consciência, como bem lembrou Chomsky, que é um império e que seu poder “continua esmagador”. Dessa forma, faz todo sentido o investimento em si mesmo para fortalecer a economia e, ao mesmo tempo, enfrentar os desafios internacionais nos campos do poder e da economia. O maior desses desafios é evidentemente a China. Para dar um exemplo, o Centro de Pesquisas Econômicas e de Negócios (CEBR, na sigla inglesa) já afirma que a economia chinesa passará a estadunidense em 2028, cinco anos antes do previsto. Entretanto, cabe lembrar que os Estados Unidos são o principal destino das exportações chinesas, fazendo do gigante da América do Norte um grande ponto de apoio para a economia chinesa. Portanto, se os Estados Unidos diminuírem drasticamente suas importações da China, ninguém poderá prever o que acontecerá com a economia chinesa.

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Voltando para o projeto de Biden, o Congresso aprovou o financiamento para a infraestrutura do país, mas procrastinou a discussão sobre as duas outras partes do Build Back Better Act, a saber, as questões climática e social. Inicialmente, o projeto de Biden chegou a ser estimado em 7,3 trilhões de dólares, somando todas as suas partes, mas dificilmente chegará a um valor tão grande. De qualquer forma, são trilhões de dólares que serão investidos com foco no crescimento da economia com base sustentável, na infraestrutura do país e na melhoria das condições sociais e econômicas das classes mais baixas. Assim como o New Deal, promovido por outro presidente democrata, Franklin Delano Roosevelt, depois da crise da quebra da Bolsa de Valores de Nova York, o Build Back Better Act também visa reerguer a economia estadunidense através da ação do Estado na Economia, algo muito criticando no maior país da América do Sul. Entretanto, o plano de Biden supera em valores o New Deal que, em valores atualizados, chegaria a um pouco mais de 650 bilhões de dólares. É evidente que não só os valores deveriam ser atualizados nessa conta, mas mesmo sem levar em conta outros fatores, o plano de Biden já demonstra a força que os Estados Unidos ainda têm.

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Apesar de o Build Back Better ser voltado para dentro do país, não se pode negar que terá um forte impacto na economia global, uma vez que também é uma resposta ao plano de crescimento chinês. A iniciativa chinesa Um Cinturão, Uma Rota (conhecida como Belt and Road em Inglês ou Nova Rota da Seda como é chamada no Brasil) é uma estratégia global da China de estrutura e desenvolvimento. Essa iniciativa já tem a promessa, muitas já cumpridas, de investimento em infraestrutura em 138 países da África, da Ásia, da Europa e da América Latina. Até agora, os países mais privilegiados são os africanos, cujos empréstimos já somam 461 milhões de dólares. Apesar da possibilidade de investimento em 138 países, o projeto original abrange cerca de 70 países, impactando por volta de 4,4 bilhões de indivíduos (65% da população mundial) e com um gasto aproximado de 1 trilhão de dólares, tendo seu término em 2049.

Não é difícil entender os objetivos chineses. Enquanto a nova rota leva à China as commodities necessárias para sua grande produção industrial e para alimentação de sua força de trabalho, a mesma rota ampliará seu mercado consumidor, fazendo a roda de sua economia girar. Evidentemente, outros países seguirão no rastro do desenvolvimento e ampliarão o poder de compra de suas populações.

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São dois grandes projetos desenvolvimentistas, de dois grandes titãs que lutam pela supremacia do poder e da economia. Ambos apostando no poder do Estado para alavancar suas economias e mudar o mundo que conhecemos. Apesar disso, o discurso que ainda impera aqui no Brasil é a velha ladainha do estado mínimo, em que o Estado se assemelha a um vigia noturno cuja única função é garantir que a propriedade privada não seja roubada (Nachtwächterstaat). Privatizações, campanhas e discursos contra empresas estatais e mistas, uma economia conduzida pelos falsos ditames das Escolas de Chicago e de Viena, banqueiros dando as cartas do direcionamento do Estado, tudo isso faz do Brasil um dinossauro econômico diante do mundo atual e certamente, já está pagando um alto preço por isso. Mais do saber disso, o brasileiro já sente na pele, na carne e nos ossos os resultados desse ultraliberalismo insano. Contra ele, só há um caminho e as pesquisas eleitorais já o estão mostrando.

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