Do 30 de junho ao 3 de julho: impeachment e mobilização popular

Não se faz necessário somente aumentar a pressão pelo impeachment, mas fazer saltar a disciplina e unidade para a construção de uma alternativa após a derrubada da barbárie que se instalou no poder

Imagem: Vitor Zaupa / Aurora Socialista
por Matheus Dato

A temperatura da conjuntura atingiu níveis ainda mais altos desde que se tornou claro que o projeto político do genocídio visava também ao enriquecimento dos operadores do governo de Jair Messias Bolsonaro e a fração burguesa que o sustenta, conforme já dissemos neste portal em outras oportunidades.

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Os crimes cometidos pelo governo federal em seu conjunto se amontoam cada vez mais, e a olhos cada vez mais vistos: desde o escândalo do superfaturamento da Covaxin até a solicitação de propina pela compra de doses da Astrazeneca, fica patente que a responsabilidade de Bolsonaro e das forças que lhe garantem no poder, como conglomerados de mídia e o partido fardado, vai muito além da crise na pandemia e passa também pela destruição do Brasil e sua produção. O aprofundamento da subalternidade e dependência do Brasil no cenário da geopolítica e da dinâmica do imperialismo foram elementos determinantes para que reuníssemos as piores condições possíveis de enfrentar as dificuldades de um momento como esse, e para que um projeto de reconstrução nacional se tornasse cada vez mais inviável.

O desafio da classe trabalhadora exige um movimento à altura da realidade corrente, e as articulações das organizações de esquerda e movimentos sociais para levar o povo brasileiro às ruas demonstra que a disposição de luta vigente tem o potencial de derrubar o governo e construir uma alternativa democrática e popular.

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30 de junho

Em Brasília, houve ato no dia 30 de junho por ocasião do protocolo do chamado “super pedido de impeachment”, que recebeu este nome por ser uma coletânea geral dos pedidos anteriores, com apoio ampliado. Estiveram presentes na Alameda das Bandeiras, em frente ao Congresso Nacional, além de parlamentares responsáveis pelo pedido de impedimento e lideranças estudantis, sindicais e de movimentos sociais, um razoável número de militantes de base dessas organizações, vindos de toda a região centro-oeste e mesmo de outras localidades mais distantes. Chama atenção que em uma correlação de forças que se apresentava extremamente desfavorável até poucas semanas atrás haja a mobilização de setores tão amplos para um ato aparentemente tão trivial quanto o protocolo de um impeachment; a questão aqui apontada tende a confirmar a ideia de que os atos de rua foram um verdadeiro ponto de inflexão na conjuntura política.

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Imagem: Vitor Zaupa / Aurora Socialista

Destaque-se acima de tudo que a movimentação mais massiva do dia 30 de junho em Brasília se deu por parte dos povos indígenas organizados no acampamento Levante Pela Terra, uma iniciativa de luta contra o PL 490 que sentencia os povos originários a perderem os seus direitos ao território e permite a superexploração de recursos e mão de obra em reservas e terras ocupadas por populações nativas. A coluna de guerreiros indígenas que subiu ao gramado em frente ao Congresso suplantava, de longe, qualquer outra frente presente. É preciso compreender que quando as reivindicações do povo se tornam uma só e orientam-se a um objetivo político concreto, neste caso a derrubada de Jair Bolsonaro e seu governo, todas as pautas se fortalecem e a organização e disciplina do povo para lutar salta em qualidade e quantidade. A união de trabalhadores, estudantes e povos originários em luta por território e direitos é sinal de uma unidade forjada pela consciência de que a exploração se combate a todo custo.

3 de julho

Por estas e por muitas outras razões, os atos do dia 3 de julho, convocados pela Campanha Fora Bolsonaro e pela frente Povo Na Rua, Fora Bolsonaro estão carregados das mais otimistas expectativas. Não se faz necessário somente aumentar a pressão pelo impeachment, nem apenas aumentar o número de pessoas nas ruas, mas fazer saltar a disciplina e unidade para a construção de uma alternativa após a derrubada da barbárie que se instalou no poder.

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Tivemos a oportunidade de ouvir brevemente nas lutas do dia 30 de junho o deputado Elvino Bohn Gass (PT-RS), líder do partido na Câmara Federal a respeito destes fatos aqui discutidos e sintetizamos as nossas preocupações em uma pergunta: o que pode mudar com o super pedido de impeachment? A resposta do parlamentar reforçando a necessidade da liderança do povo no processo não deixa qualquer dúvida.

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