Poucas horas depois das eleições, Bruno Covas já estava dizendo que São Paulo não quer um candidato “totalitarista”

por William Dunne
Assim que a apuração dos votos em São Paulo passou dos 50%, perto das 23h de hoje (15), o teor da campanha contra Guilherme Boulos para o segundo turno que se aproxima já começou a se revelar. Bruno Covas falou ao público e disse, entre considerações contra o “radicalismo”, que São Paulo não quer um candidato “totalitarista”. Uma clara referência ao “totalitarismo” alardeado por liberais para atacar as experiências socialistas e, de quebra, toda a esquerda em geral.
Essa dica já mostra como será a campanha contra Guilherme Boulos durante o segundo turno. Não partirá apenas dos tucanos, mas toda a grande imprensa adotará um tom parecido para atacar a candidatura da esquerda no segundo turno. A acusação mais óbvia e frequente será de “invasor de propriedades”. De qualquer modo, a boa notícia assegurada nas eleições da maior cidade do país é a derrota do bolsonarismo, com Russomanno ficando com 10% dos votos.
Boulos conseguirá manter a campanha morna?
De sua parte, Guilherme Boulos tentará manter a temperatura morna, como já mostrou durante sua fala esta noite. Falando da periferia da cidade, no bairro do Campo Limpo, Boulos rebateu a acusação de “radical” nos seguintes termos: “Radicalismo é a cidade mais rica do país ter gente que revira o lixo para poder comer. Radicalismo é hospital fechado no meio da pandemia, é o abandono do povo”. Palavras demagógicas que procuram fugir do confronto com a acusação feita pela direita.
O problema é que provavelmente isso não vai ser possível. A proporção dos ataques pode obrigar Boulos a assumir um discurso mais franco para fazer frente à avalanche de ataques que sofrerá. Boulos afirmou, acertadamente, que nesse primeiro turno sua candidatura derrotou o bolsonarismo. E depois prometeu: “No segundo turno vamos vencer o João Doria.” A campanha que elegeu Doria foi justamente uma propaganda de extrema-direita que mirava particularmente o MST. Se quiser mesmo derrotar Doria, padrinho político de Bruno Covas, precisará confrontar isso.
Finalmente, Boulos encerrou seu discurso com um tom de otimismo, lembrando que agora os dois candidatos terão o mesmo tempo de TV. “Nós vamos virar o jogo em São Paulo. O engajamento vai vencer, as pessoas de verdade vão vencer os robôs, as pessoas de verdade vão vencer as máquinas.” De fato, as condições para mobilizar apoiadores diante de eleições como esta estão presentes. E isso é mais um motivo que pode impedir a tentativa do próprio Boulos de esfriar os ânimos e evitar a polarização.