Ainda sem resultados oficiais, pesquisa de boca de urna mostra vitória de Luis Arce com mais de 50% dos votos, dando vitória ao MAS no primeiro turno

por William Dunne
Ainda sem resultados oficiais, que vão demorar, a pesquisa de boca de urna indica que Luis Arce, o candidato do Movimiento Al socialismo (MAS) e apoiado pelo presidente Evo Morales, foi eleito no primeiro turno, com 53% dos votos. Uma proporção de votos que torna a divisão da direita irrelevante no resultado final e confirma mais uma vez a impopularidade da direita na América Latina sempre que não prevalecem a fraude e a truculência durante o processo eleitoral.
Como destacou o presidente derrubado no golpe do ano passado, Evo Morales, essa foi uma vitória contundente do MAS. Evo também, hoje asilado na Argentina, destacou que o MAS terá maioria nas duas casas legislativas. “Voltamos como milhões, agora vamos devolver a dignidade a liberdade ao povo”.
Hermanas y hermanos: la voluntad del pueblo se ha impuesto.
Se ha producido una victoria contundente del MAS-IPSP. Nuestro movimiento político tendrá la mayoría en las dos cámaras. Hemos vuelto millones, ahora vamos a devolver la dignidad y la libertad al pueblo.#JallallaBolivia pic.twitter.com/gTHa6qRhTB— Evo Morales Ayma (@evoespueblo) October 19, 2020
Em La Paz, junto com o candidato a vice-presidente David Choquehuanca, Luis Arce anunciou durante a madrugada, rodeado por apoiadores, que fará “um governo de unidade nacional”. E afirmou: “Vamos retomar nosso processo de mudança, sem ódio, defendendo e superando nossos erros”.
Eleições tensas
As eleições de domingo (18) foram marcadas por muita tensão, com polícia e Exército ocupando as ruas e o governo de fato fazendo ameaças e perseguindo observadores internacionais. Há um ano, o candidato novamente derrotado, Carlos Mesa, não reconheceu as eleições que levariam Evo Morales para mais um mandato, desencadeando um golpe que levaria o presidente a fugir para o México 20 dias depois. Apesar do clima de intimidação, não foi possível esconder a vontade popular nem impedi-la de expressar-se nas urnas.
A presidente sem votos que assumiu o poder depois do golpe e permanece no cargo até hoje, Jeanine Añez, viu-se obrigada a reconhecer o resultado das eleições. A golpista foi ao Twitter e declarou que “pelos dados que temos, o Sr. Arce e o Sr. Choquehuanca venceram a eleição. Felicito os ganhadores e peço que governem pensando na Bolívia e na democracia”.
Aún no tenemos cómputo oficial, pero por los datos con los que contamos, el Sr. Arce y el Sr. Choquehuanca han ganado la elección. Felicito a los ganadores y les pido gobernar pensando en Bolivia y en la democracia.
— Jeanine Añez Chavez (@JeanineAnez) October 19, 2020
E agora?
O que vai acontecer agora na Bolívia é incerto. A vitória eleitoral do MAS foi acachapante e já há o reconhecimento da derrota por um setor da direita. No entanto, os golpistas não poderão simplesmente abrir mão do poder. São forçados, por seus interesses, a continuar com sua política golpista e truculenta. Em qualquer caso, deve-se destacar que a vitória eleitoral do MAS não foi uma simples reversão do golpe nas urnas. Caso o resultado realmente venha a ser respeitado, houve uma mobilização de inúmeros movimentos sociais por todo o país contra o golpe, que custou a vida de dezenas de mártires. Sem essa força nas ruas não seria possível voltar ao governo simplesmente tendo votos, como o próprio golpe mostrou, a direita não tem nenhum compromisso com a democracia e a vontade da maioria. A “guerra civil” pela qual clamavam os fascistas mobilizados durante o golpe do ano passado permanecerá latente.
Certamente a direita Boliviana deve ter algum plano B. Agora é torcer para que o povo da Bolívia consiga se organizar e resistir e de preferência avançar sobre a direita.