A mãe, Jaqueline de Oliveira Lopes, responsabilizou a PM pela morte: “foi a polícia que matou a minha filha”

por Ivan Conterno
A Polícia Militar realizava uma intervenção na Vila Cabuçu, comunidade que fica em Lins de Vasconcelos, na Zona Norte da capital fluminense, quando Kathlen Romeu foi atravessada por uma bala de fuzil. Ela tinha 24 anos de idade, era designer e estava grávida há quatro meses. No momento que começaram os disparos, a jovem caminhava pela rua com a sua avó, que mora no bairro. As duas estavam a caminho da casa da tia de Kathlen, onde almoçariam.
A vítima foi levada ao Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, mas chegou sem vida. Logo em seguida, os moradores da comunidade fecharam a Autoestrada Grajaú-Jacarepaguá em protesto. A via foi bloqueada pelos manifestantes nos dois sentidos das 16h às 18h30.
A Polícia Militar afirma que reagiu a um ataque no momento do disparo. Segundo os moradores da região, no entanto, foi a polícia quem armou uma emboscada no local e quem atirou. O caso será investigado pela Divisão de Homicídios da Capital.
Moradores da comunidade do Lins, zona norte do Rio, protestaram na tarde desta terça-feira (8) após a morte de Kathlen Romeu, mulher negra e grávida de 24 anos, durante uma ação da polícia na na comunidade Vila Cabuçu, que faz parte do Complexo do Lins. pic.twitter.com/fh3sVXMc1N
— Ponte Jornalismo (@pontejornalismo) June 8, 2021
A jovem havia saído da comunidade há um mês, após a descoberta da gestação, a fim de fugir da violência. Ela e o namorado, o também designer Marcelo Ramos, estavam planejando uma mudança para um apartamento próprio que haviam comprado.
“Perdi minha neta num tiroteio bárbaro que a gente não tem culpa de nada”, disse a avó Sayonara Fátima de Oliveira. A mãe, Jaqueline de Oliveira Lopes, responsabilizou a PM pela morte: “foi a polícia que matou a minha filha”, afirmou.
Além de ser formada em Design, Kathlen trabalhava como modelo, mantinha um emprego como vendedora na Zona Sul e estrelou um videoclipe de Leo Santana e Thiaguinho, “Pretinho Tipo A”, lançado há dois anos.
No Instagram, Thiaguinho mostrou-se indignado com mais esse assassinato: “Mais uma família preta chora a perda de ente querido… Mais uma vez, ASSASSINARAM um nosso! É revoltante! É angustiante! E é sempre com A GENTE! A bala na cabeça dela, dói na minha… E tem que doer na sua também!”
Não é um caso isolado
Segundo relatório do Instituto Fogo Cruzado, 79% das pessoas baleadas na Região Metropolitana do Rio de Janeiro foram atingidas durante ações policiais no último mês. Somente a intervenção realizada no Jacarezinho, no dia 6 de maio, somou 28 mortos e 5 feridos. O mês de maio, entretanto, foi um dos menos violentos de 2021.
Diante do episódio, centenas de milhares de pessoas denunciaram o racismo e o genocídio da população negra e periférica e demonstraram apoio à família nas redes sociais. As organizações do movimento negro destacaram que o Estado age contra a vida de negros e negras. Essa situação tem se agravado nos últimos anos. No ano passado, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública alertou para o número recorde de mortes causadas por policiais.
Uma jovem preta e grávida levou um tiro durante uma operação e faleceu hoje no Lins de Vasconcelos.
Até quando as mulheres pretas desse país não terão direito a viver suas vidas e maternidade de forma plena?
Mais uma vez a mão do estado age contra corpos pretos. https://t.co/dKD4c0F8U8
— Instituto de Defesa da População Negra (@institutodpn) June 8, 2021
Matam nossos filhos, matam nossas mães!
Kathlen Romeu, moradora do complexo do Lins e grávida de 13 semanas, foi fuzilada durante uma operação policial hoje. O Estado retirou mais uma vida negra e favelada que estava gestando outra vida.
Investigação urgente!#VidasNegrasImportam pic.twitter.com/6R8LN3OPns— Instituto Marielle Franco (@inst_marielle) June 8, 2021
Há um mês, acontecia a chacina do Jacarezinho. Hoje, lamentamos a morte de Kathlen Romeu, mulher negra, de 24 anos e grávida de 14 semanas, assassinada durante outra operação policial no Rio de Janeiro. Nossos sentimentos à família. Exigimos investigação. #VidasNegrasImportam pic.twitter.com/ZFLwiFWshr
— Uneafro Brasil (@UNEafroBrasil) June 8, 2021
Os familiares de Kathlen solicitaram que não houvesse nenhuma manifestação no local do sepultamento, mas disseram apoiar os demais atos.