Excluídos os governos estaduais e municipais, o Poder Legislativo e Judiciário, todos os órgãos da Administração Pública Federal estão envolvidos nesse gasto total de 1,8 bi

por Gabriel Veloso
Então, pelo visto viralizou a notícia do Metrópoles, onde se mostra que o Governo Federal, contando todos os seus órgãos, gastou aproximadamente R$1,8 bilhão de reais com alimentos. Eu vim pra dizer que a partir disso, no intuito imediato de difamar o genocida que tanto odiamos, muitas mentiras e desinformação estão sendo propagadas, e estamos apontando defeito onde não existe e deixando passar o lado realmente tenebroso dessa informação que viralizou hoje. Vamos lá.
Primeiramente, entendo que a maioria das pessoas não tem a obrigação de entender a estrutura do governo nem seu tamanho mais ou menos preciso, e daí talvez surgirem várias mentiras (ou talvez apenas equívocos?) como “Bolsonaro gastou 15 milhões com leite condensado”. Obviamente que não foi ele nem mesmo o Palácio da Alvorada inteiro que gasta essa quantidade absurda de leite condensado (nem dos outros itens que se incluem no gasto total). O Governo Federal, como um todo, inclui todos os órgãos do Poder Executivo Federal. Em outras palavras, excluídos os governos estaduais e municipais, o Poder Legislativo e o Poder Judiciário, todos os órgãos da Administração Pública Federal estão envolvidos nesse gasto total de 1,8 bi.
O Poder Executivo Federal inclui, além do Excelentíssimo Senhor Presidente, o Ministério da Defesa (responsável pela administração do Exército Brasileiro, entre outras coisas), o Ministério da Saúde (principal responsável pelo SUS), o Ministério da Justiça, o Ministério da Economia, etc. Todos esses órgãos do Poder Executivo Federal, que formam o Governo Federal, juntos, possuem centenas de milhares de pessoas que trabalham neles, além de responsabilidades como repasse de verbas de alimentação escolar da União para os Estados e Municípios.
A título de visualização: o Exército brasileiro possui aproximadamente 335 mil militares somente na ativa (sem contar os reservistas) e eles têm de ser alimentados. Se pegássemos o orçamento total de todo o Governo Federal (1,8 bilhões) somente para a alimentação dos soldados da ativa, teríamos aproximadamente apenas 15 reais por dia para cada militar da ativa. É um valor razoável? Talvez, mas na realidade o gasto com alimentação dos militares da ativa é de apenas 632 milhões de reais, o que dá apenas 5 reais por dia, em média, para cada soldado. Sabemos, contudo, que o gasto é desproporcional, sendo que pra um soldado essa média seria menor que isso, e para oficiais, muito maior.
Agora sim, começamos a compreender o fenômeno e seus reais problemas, sem precisar de nos submeter à desinformação. Se 632 milhões já parece pouco para alimentar 335 mil militares, peguemos então os números do Ministério da Educação: foi gasto pela pasta um valor de apenas 60 milhões de reais em alimentos. E por que apenas? Porque esse é o repasse federal para alimentar 36 milhões de estudantes do ensino infantil, fundamental, médio e EJA – e ainda tem os estudantes do ensino especial, que não contabilizei -.
Isso significa, minha gente, que o Governo Federal gasta 5 reais com seus militares e menos que 50 centavos com suas crianças e adolescentes estudantes do ensino básico. Ambos são valores baixos, porém salta aos olhos a quantidade ínfima que o Governo Federal repassa aos Estados e Municípios para alimentação escolar de mais de 36 milhões de brasileiros.
Agora, voltemos à crítica imediata: o governo federal gasta muito com alimentação? Certamente que sim, em se tratando dos altos cargos e dos altos órgãos, e certamente que não, em se tratando de valores médios absolutos. A culpa é do Bolsonaro? Não! Sim, eu sei que todos nós queremos esse crápula fora do governo o mais rápido possível, e choveu de gente da esquerda parlamentar criticando esses valores. Porém, se atualizar os valores monetários pela inflação, os valores do governo do PT certamente que não seriam muito diferentes dos atuais. Eu chuto inclusive que o PT aumentou os gastos com alimentação no total, e em certa parte onde deveria: como alimentação escolar. Por isso não podemos nos utilizar de mentiras e desinformação para avançar nossa agenda imediata, às custas da nossa própria credibilidade no futuro.
Por fim, vamos ao ponto central: houve corrupção ou irregularidade? Provavelmente em alguma licitação (lembrando que o valor total de 1,8 bi é o total de várias licitações de vários órgãos do governo federal) ou outra, deve ter sim ocorrido corrupção ou irregularidade. Mas vou lhes contar um segredo: existe remédio pra corrupção ilegal e ilegalidade em geral, e o nome disso é prestação de contas. Juro, não tem segredo. Querem diminuir ou até mesmo acabar com fraudes em licitações, irregularidades, etc? É fácil, o governo precisa investir pesado em instituições de prestação de contas: Ministério Público, Tribunais de Contas, Controladorias Internas e Externas em geral, as quais, invariavelmente, estão com capacidade aquém da necessária pra qualquer funcionamento minimamente sutil do governo brasileiro em qualquer esfera federativa.
Porém, o problema não é a corrupção que nasce da ilegalidade, a qual tem remédio, e sim a corrupção legal. A corrupção do sistema capitalista: a capacidade do dinheiro de comprar tudo que é coisa, terra, água, ar, animais, pessoas e almas. Essa corrupção é incombatível e permanecerá sendo enquanto viger esse modelo socioeconômico onde o Deus Supremo é o dinheiro (e antes que interpretem isso errado, o problema não é o dinheiro em si, como meio de troca, e sim o modelo socioeconômico, ok?).
Assim, insistir nesse discurso, alimentando a desinformação, é ruim porque é uma estratégia que apesar de funcionar a curto prazo, mina a nossa credibilidade. Além disso, implicitamente apoia o discurso fiscalista e manutenção do Teto de Gastos, já que o valor total do Governo Federal com alimentação deveria, sim, aumentar, e não diminuir, por mais que deva existir cortes nas soberbas dos altos cargos e órgãos. Além disso, devemos lembrar que Bolsonaro não é nosso único e principal problema, mas apenas o problema mais imediato. E para provar que nossos problemas não acabaram apenas com sua retirada, lembrem-se sempre: pedir impeachment desse asco, até a direita pede