Não foi apenas uma simples vitória eleitoral, mas o triunfo de uma mobilização permanente da base do partido do ex-presidente Evo Morales

por William Dunne
Terminou hoje (23) a contagem oficial de votos das eleições presidenciais da Bolívia, realizadas no último domingo (18). A vitória da esquerda foi ainda maior do que tinha mostrado a pesquisa de boca de urna. Às 8h50 no horário de La Paz, a apuração terminou de computar 100% dos votos, mostrando um total de 6.160.109 de votos válidos. Luis Arce, o candidato apoiado pelo presidente Evo Morales, ficou com 55,10% dos votos, um triunfo esmagador da esquerda. Em segundo lugar, Carlos Mesa ficou com 28,83%, e Luis Fernando Camacho, de extrema-direita, terminou com apenas 14% do total de votos depois de ter liderado o golpe que derrubou Evo Morales no ano passado. A participação foi especialmente expressiva, chegando aos 88,42%.
Não foi apenas uma simples vitória eleitoral, mas o triunfo de uma mobilização permanente da base do partido do ex-presidente Evo Morales, o Movimiento Al Socialismo (MAS). E não poderia ser de outra forma, no contexto de golpe de Estado, depois da derrubada violenta de Evo Morales no ano passado, o voto por si só não bastaria para impor a vontade da maioria e derrotar os golpe. As movimentações do governo ilegítimo da autoproclamada presidente Janine Áñez no fim de semana das eleições mostraram de maneira contundente a pressão da direita para tentar fraudar a vontade da maioria no pleito. Diversas vezes a direita adiou as eleições, sob diferentes pretextos, buscando alguma forma de consolidar o golpe por meio de eleições fajutas. No entanto, todas as pesquisas mostravam sempre a vitória do MAS. Dessa vez, não foi possível completar essa manobra.
Daqui pra frente, a campanha golpista da direita vai continuar. Mesa e Áñez foram rápidos em reconhecer a vitória do MAS ainda na segunda-feira, e mesmo a OEA já aceitou a derrota, contudo, a extrema-direita já está nas ruas contestando o resultado. A ala mais moderada da direita, depois desse aparente recuo tático, também continuará procurando uma brecha para sabotar o governo e despertar uma nova onda de instabilidade. Enquanto isso, fica a pergunta: o que o MAS fará para evitar um novo golpe de Estado?