Os perrengues de uma profissional da saúde frente à pandemia

Enquanto bolsonaristas brigam para não usarem máscara e álcool em gel, profissionais da saúde passam por uma rotina exaustiva frente à pandemia.

Imagem: Shutterstock
por Bibi Tavares

A rotina de trabalho em um hospital já é naturalmente cansativa e conflituosa, afinal, é onde vida e morte se encontram com mais frequência, mas no cenário de pandemia tudo tende a ser levado à exaustão. Auxiliar de enfermagem em um hospital público municipal na Zona Norte de São Paulo, Carmen Helena*, de 47 anos, é uma das muitas profissionais na linha de frente nos atendimentos de coronavírus. Ela nos conta um pouco sobre as mudanças em sua rotina no trabalho e como sua vida pessoal tem sido afetada por esse contexto de pandemia. 

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“Minha rotina nesse momento está sendo totalmente diferente. Primeiro, já entrar no hospital de máscara, pegar uma roupa privatiza, pegar um kit com a enfermeira de máscaras descartáveis, pegar o escudo e máscara N-95, entrar na UTI/COVID-19, fazer todo o procedimento de assepsia das mãos e braços, colocar toda a paramentação (figurino que o local de trabalho demanda) para entrar no quarto do paciente. Antes de entrar, pegar todo o material para controle de SSVV (sinais vitais), todas as medicações de horário, material para banho do paciente, etc.” 

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A auxiliar de enfermagem também conta que a pior parte é ver que “muitos funcionários que estão sendo contratados são recém-formados”, ela explica que a falta de experiência desses profissionais frente a um vírus tão perigoso acaba sendo complicado, e que até para os funcionários que, assim como ela, estão trabalhando nessa área há anos e possuem mais noção, destreza e base, acaba sendo perigoso, pois é um vírus totalmente desconhecido.

E como fica em casa?

Sobre como essa epidemia tem refletido em sua vida pessoal, Carmen Helena* afirma que “pessoal e psicologicamente afeta muito”. E continua, “sinto falta de abraçar, dos almoços em família, de ir à igreja.” Ela também conta que a afeta muito estar sozinha “por ter que ficar longe das pessoas que ama por medo de contaminá-las”. Muitas pessoas podem nem imaginar, mas esse sim é o tipo de pessoa e profissional que influencia em muitas vidas e que o Estado dificilmente reconhece do jeito adequado. Mesmo assim, a auxiliar de enfermagem não esconde o medo que tem de ser contaminada ou de ver um colega de trabalho contaminado. 

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Muitos desses problemas de acúmulo de trabalho em épocas desgovernadas estão intimamente ligados ao descaso do Estado, principalmente com o setor público e com o avanço do neoliberalismo no País. Perguntada se acredita que os serviços públicos de saúde estão preparados para atender a grande demanda de contaminados pela Covid-19, Carmen é enfática, “Onde eu trabalho, por enquanto, sim, mas por causa do isolamento. Quando o povo começar a sair, já acho que não”. Para ela, a falta de capacitação completa para lidar com uma pandemia também atrapalha, e finaliza dizendo que, agora, “a gente tem que buscar conhecimento por conta própria, pois não fomos treinados para esse tipo de situação, de alta demanda, como se fosse uma situação de guerra.”

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