A classe dominante extrai a força de trabalho do povo, que vê toda a riqueza que existe no mundo no bolso dos capitalistas, estes responsáveis pela miséria mundial

por Alexandre Flach
O texto abaixo é a segunda parte da série Fogo e revolta nas ruas: para onde vai a luta popular?
Podemos dizer que praticamente no mesmo momento em que o capitalismo se estabeleceu como sistema econômico dominante mundo afora – o mais eficiente modo de exploração de classes de todos os tempos – o povo explorado já iniciou sua luta contra a brutalidade dessa classe “dona do mundo”: a burguesia. Luta difusa e bem inadequada, mas ainda assim, luta. Eram os pequenos furtos dos operários nas fábricas, as rebeliões contra as máquinas, as sabotagens na produção, e mais uma infinidade de formas de resistência do povo explorado contra seus exploradores. Os problemas? Os mesmos de hoje: confusão e desorganização.
A luta econômica: Sindicatos e caixas de previdência
Conforme crescia a noção de classe, ou seja, de que todos os que não são grandes capitalistas estão no mesmo barco da exploração, os operários das fábricas começaram a perceber que contra o poder do capital a única força que existia era o poder de solidariedade e união do povo. Como centenas de milhares de pessoas não abrem a cabeça ao mesmo tempo, com dificuldade e muita briga, é que começaram a surgir as primeiras organizações operárias nas fábricas, as greves, os sindicatos, até chegar a formar, inclusive, as caixas de previdência, que juntavam uma grana destinada prioritariamente a segurar a onda das famílias na hora da greve, mas também dirigida para os operários doentes e acidentados, e para amparar as famílias com o falecimento do trabalhador.
A luta econômica: Partido dos Trabalhadores
Seguindo em frente, os operários acabaram percebendo que a luta precisava ir além daquele constante braço de ferro com o patrão por salários e melhores condições de trabalho. É que a burguesia sempre usava as leis vigentes como desculpa para explorar e principalmente reprimir o povo. Como as leis eram feitas pela própria burguesia, através dos políticos que sempre foram comprados por ela, os trabalhadores ficavam sempre em grande desvantagem. Era só o parlamento baixar uma lei que proibia os sindicatos, ou as greves, que já estava mais do que justificado o poder da polícia de baixar o cacete no povo. A única saída era que o povo também participasse da política. Era preciso ter políticos independentes. Diante desta necessidade prática, surge mais um nível de organização popular: os partidos de trabalhadores.
Mas o Estado é todo burguês…
Lá se foram mais décadas e décadas de muita luta e discussão para começarem a surgir os partidos de trabalhadores com força para realmente lutar pelo poder dentro das instituições criadas pela burguesia. Mas o problema, no fundo, continuava o mesmo: classe dominante domina. E mesmo com políticos populares e partidos vindos direto do povo, a burguesia conseguia sempre manipular o jogo e quase sempre conseguia impor limites para os trabalhadores. Conseguiam ditar até onde poderiam chegar na luta. A burguesia só recuava mesmo quando se via jogada na parede por uma boa e velha popular de raiz, ou seja, radical. A luta das ruas, das greves, do quebra-quebra, da violência bruta contra a repressão burguesa. Quase uma guerra civil.
Uma equação simples: milhões pra cá, milhões pra lá
É uma situação matemática: a burguesia sempre se resumiu à meia-dúzia de pessoas, já o povo sempre foi formado por milhões de trabalhadores. E milhões não podem ser controlados por meia-dúzia, nem mesmo com o melhor exército do mundo. O problema é que, mesmo com esse poder todo nas mãos, dentro das instituições inventadas, manipuladas e dominadas pela burguesia – a assim chamada “democracia” – ainda que o povo conseguisse furar a resistência e conquistasse algum espaço aqui e ali, elegendo deputados, vereadores, prefeitos ou até presidentes, a nossa força real continuava a ser a mesma: a maior ou menor capacidade de organizar a ação direta, a luta de classes violenta contra a burguesia. Colocar os 99% para brigar diretamente contra o 1% que domina e explora todo mundo.
Para impor a sua vontade, a burguesia vem com os milhões em capital acumulados no bolso da meia dúzia e o povo tem que contar com o poder de uma multidão de pessoas raivosas, bem organizadas, prontas para a briga. E isso sem esquecer também que os milhares de dólares que dão o poder para a burguesia vem do trabalho do povo. No fim, é o próprio povo que dá para a classe dominante o seu poder, ou diretamente, produzindo toda a riqueza que existe no bolso dos capitalistas, ou indiretamente, deixando a luta de lado e permitindo à burguesia dominar em paz.
Mas essa possibilidade sempre presente do povo rapidamente cortar a fonte do poder capitalista e a própria sociedade burguesa, segue sendo a única coisa que os dominadores do mundo têm algum receio. Em última análise, a capacidade revolucionária do povo.
Revolução: O povo sente a força do seu poder
Hoje em dia, a maioria ainda olha de lado e finge que não tem nada a ver com isso, mas na virada para o século XX, as massas populares tinham acabado de perceber a força e o poder que a revolução poderia ter. Não havia sindicato ou partido operário que não tivesse a revolução socialista em seus horizontes, mesmo que da boca para fora muitas vezes. De todo modo, agora ou amanhã, ou mesmo depois de amanhã, a nova sociedade, proletária, sem Estado e sem classes, era praticamente uma unanimidade entre o povo trabalhador. Nas palavras dos burgueses da época, o povo estava todo “contaminado de socialismo”.
E em países mais atrasados, a burguesia ainda tinha outra grande preocupação, tomar o poder da monarquia. Na Rússia, por exemplo, a burguesia local era fraca e atrasada, subalterna ao Czar, sem condições de manipular diretamente as massas. Mas a verdade é que a burguesia nem levava o povo muito em consideração. Em geral, considerava o povo um conjunto amorfo e desprezível de gente. Um pessoal “ignorante” demais para uma luta séria pelo poder e, em geral, dócil aos comandos dos seus “senhores”, mesmo que houvesse um ou outro desordeiro infiltrado.
Um preconceito que logo se mostrou grave erro de estratégia e que depois de cair por terra pelos fatos históricos, foi artificialmente propagado pela burguesia mundial nos setores de classe média e até hoje tem adeptos mesmo entre alguns que se consideram “de esquerda”.
E foi justamente essa situação complicada e contraditória – burguesia fraca e subalterna ao poder da monarquia e cometendo o grave erro de subestimar a capacidade da luta popular – que permitiu ao povo russo fazer a primeira revolução proletária da história. Vamos ver isso nos próximos capítulos da nossa série, camaradas. Aguardem!