A luta contra o racismo deve ser, antes de tudo, anticapitalista

Através do racismo, os grandes capitalistas conseguem rebaixar o valor da força de trabalho de toda a sociedade

Imagem: 80's Child
por Joaquim Nogueira

Ao contrário do que muita gente pensa, o racismo não é um problema a ser solucionado dentro do sistema capitalista. Para esse sistema, há uma necessidade de manter e intensificar o racismo para ampliar os lucros dos patrões e impedir o desenvolvimento da luta de classes.

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Através do racismo, os grandes capitalistas conseguem rebaixar o valor da força de trabalho de toda a sociedade. Devido a essa estrutura, os negros se veem em condições difíceis para conseguir ocupação, o que os faz submeterem-se a valores inferiores aos que se pagaria para um branco. Dessa forma, a classe dominante usa os negros como ferramenta para forçar os salários de todos para baixo. Quem nunca ouviu o ditado? “Se quer, quer. Se não não quer, tem quem quer”.

Uma vez que os não negros se dão conta dessa concorrência, considerada inferior, voltam sua revolta contra os negros, acusando-os de serem os responsáveis por seus baixos salários e, consequentemente, intensificam os processos de racismo dentro das camadas mais baixas da sociedade.

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Perpetuação do mecanismo racista

Ganhando salários menores, os negros transmitem essa herança aos seus descendentes, na forma de menos acesso à saúde, piores condições de moradia, menos acesso à informação, piores vestimentas, alimentação precária, menor escolaridade etc.

Geração após geração, o ciclo se completa e se renova dando origem à manutenção do status quo. Em geral, as pessoas nascem, crescem e morrem dentro da mesma classe social. Alguns conquistam pequenas melhorias, outros decrescem um pouco no modo de vida, mas a imensa maioria se mantém na mesma classe de origem.

Para nos fazer suportar essa infeliz realidade, a classe dominante, eventualmente, permite uma ou outra migração de classe, o que chamam de “ascensão social”.

As condições da ascensão

Essa migração, em geral, dá-se através do cometimento de crimes, falcatruas, corrupção e, é claro, exploração do trabalho do outro. Muito raros são os casos daqueles que ascendem socialmente por meio do esforço, da inteligência, da dedicação – a famosa meritocracia.

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A maioria de nós é capaz de se lembrar de pelo menos três gerações (bisavós, avós e pais) que, apesar de toda inteligência, sabedoria, esforço, honestidade e mérito, não conseguiram a tão sonhada conquista de riqueza.

Esse processo de discriminação de um grupo por outro, ambos da mesma classe social, foi descrito por Marx em 1870 em uma carta a Sigfrid Meyer e August Vogt, em Nova Iorque. Nessa carta, Marx faz o paralelo entre os trabalhadores ingleses e irlandeses, comparando as relações entre eles e as relações entre trabalhadores brancos e negros nos EUA.

Competição

Isso deixa claro que o sistema capitalista necessita dos processos de competição entre os trabalhadores, que levam à discriminação de um grupo social de trabalhadores por outro que se sinta e se reivindique superior por alguma característica física, religiosa, geográfica, étnica ou de gênero.

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O processo de opressão criado pelo capitalismo que coloca em oposição mulheres e homens, LGBTs e héteros, imigrantes e nativos, entre outros, é bem parecido, guardadas suas particularidades. Em todos, nota-se a competição que mantém esses grupos em constantes conflitos de interesse e, consequentemente, dificultam a formação da unidade dos trabalhadores pela luta de classes.

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É necessário que fique claro que não podemos acreditar que existirá solução para o racismo dentro do capitalismo e, portanto, ser antirracista deve ser, antes de qualquer coisa, ser anticapitalista.

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