Através do racismo, os grandes capitalistas conseguem rebaixar o valor da força de trabalho de toda a sociedade

por Joaquim Nogueira
Ao contrário do que muita gente pensa, o racismo não é um problema a ser solucionado dentro do sistema capitalista. Para esse sistema, há uma necessidade de manter e intensificar o racismo para ampliar os lucros dos patrões e impedir o desenvolvimento da luta de classes.
Através do racismo, os grandes capitalistas conseguem rebaixar o valor da força de trabalho de toda a sociedade. Devido a essa estrutura, os negros se veem em condições difíceis para conseguir ocupação, o que os faz submeterem-se a valores inferiores aos que se pagaria para um branco. Dessa forma, a classe dominante usa os negros como ferramenta para forçar os salários de todos para baixo. Quem nunca ouviu o ditado? “Se quer, quer. Se não não quer, tem quem quer”.
Uma vez que os não negros se dão conta dessa concorrência, considerada inferior, voltam sua revolta contra os negros, acusando-os de serem os responsáveis por seus baixos salários e, consequentemente, intensificam os processos de racismo dentro das camadas mais baixas da sociedade.
Perpetuação do mecanismo racista
Ganhando salários menores, os negros transmitem essa herança aos seus descendentes, na forma de menos acesso à saúde, piores condições de moradia, menos acesso à informação, piores vestimentas, alimentação precária, menor escolaridade etc.
Geração após geração, o ciclo se completa e se renova dando origem à manutenção do status quo. Em geral, as pessoas nascem, crescem e morrem dentro da mesma classe social. Alguns conquistam pequenas melhorias, outros decrescem um pouco no modo de vida, mas a imensa maioria se mantém na mesma classe de origem.
Para nos fazer suportar essa infeliz realidade, a classe dominante, eventualmente, permite uma ou outra migração de classe, o que chamam de “ascensão social”.
As condições da ascensão
Essa migração, em geral, dá-se através do cometimento de crimes, falcatruas, corrupção e, é claro, exploração do trabalho do outro. Muito raros são os casos daqueles que ascendem socialmente por meio do esforço, da inteligência, da dedicação – a famosa meritocracia.
A maioria de nós é capaz de se lembrar de pelo menos três gerações (bisavós, avós e pais) que, apesar de toda inteligência, sabedoria, esforço, honestidade e mérito, não conseguiram a tão sonhada conquista de riqueza.
Esse processo de discriminação de um grupo por outro, ambos da mesma classe social, foi descrito por Marx em 1870 em uma carta a Sigfrid Meyer e August Vogt, em Nova Iorque. Nessa carta, Marx faz o paralelo entre os trabalhadores ingleses e irlandeses, comparando as relações entre eles e as relações entre trabalhadores brancos e negros nos EUA.
Competição
Isso deixa claro que o sistema capitalista necessita dos processos de competição entre os trabalhadores, que levam à discriminação de um grupo social de trabalhadores por outro que se sinta e se reivindique superior por alguma característica física, religiosa, geográfica, étnica ou de gênero.
O processo de opressão criado pelo capitalismo que coloca em oposição mulheres e homens, LGBTs e héteros, imigrantes e nativos, entre outros, é bem parecido, guardadas suas particularidades. Em todos, nota-se a competição que mantém esses grupos em constantes conflitos de interesse e, consequentemente, dificultam a formação da unidade dos trabalhadores pela luta de classes.
É necessário que fique claro que não podemos acreditar que existirá solução para o racismo dentro do capitalismo e, portanto, ser antirracista deve ser, antes de qualquer coisa, ser anticapitalista.
Excelente texto camarada.