É uma vergonha que qualquer emissora, até mesmo a Record, utilize métodos tão desprezíveis para atacar aqueles que não compartilham de suas posições políticas

por Alexandre Lessa da Silva
A Rede Record, uma emissora de TV bolsonarista pertencente à igreja Universal e que já teve sua honestidade questionada pela própria Rede Globo, reproduziu, em 9 de outubro de 2021, acusações baseadas em fake news sobre uma relação entre o Foro de São Paulo, partidos de esquerda e o narcotráfico. Sem nenhum vestígio de prova e sem ouvir o lado acusado, a Record agiu como manda o manual do jornalismo da extrema direita, ou seja, passando por cima da ética e dos princípios do verdadeiro jornalismo. Mentir para prejudicar outrem não é liberdade de imprensa, mas, pelo contrário, é agir contra ela, uma vez que fere o direito à informação de seus telespectadores e, com isso, enfraquece a credibilidade do jornalismo em geral. O PT, um dos partidos citados, publicou apenas uma nota de esclarecimento para desmentir o canal, sabendo da pouca credibilidade que a Record tem. Entretanto, esse já é o começo da campanha baseada em fake news que vem pela frente até as eleições e, por isso, é necessário buscar a origem dessa mentira criminosa.
A Record e suas manipulações todos já conhecem, mas quem é Cristina Seguí, espanhola responsável pelas falsas acusações?
Cristina Seguí Garcia, “jornalista” e escritora espanhola de 43 anos, é conhecida no país europeu como “a musa da direita”. Antifeminista convicta, é autora de livros como “La mafia feminista” e “Manual para defenderte de una feminazi: y otros asuntos de alta necesidad”. No primeiro, faz uma crítica à luta pela igualdade de gênero, dizendo que essa luta levou à criação de um aparato financeiro criminoso que enriqueceu partidos políticos e grandes setores da mídia. O objetivo do livro é atacar o Ministério da Igualdade Espanhol e defender empresários e juízes dos “perigos” do feminismo. O segundo livro citado aqui também é uma crítica insana contra o feminismo, como o seu título já deixa ver. Nele, Cristina afirma que o feminismo atual, promovido pelas “mercantilistas da ideologia de gênero”, é uma arma totalitária para oprimir e chantagear a população masculina e uma das maiores ameaças às mulheres. Cristina chega a acusar, em seus livros, que as feministas sofrem de hibristofilia (atração sexual por pessoas que cometeram uma atrocidade ou um crime) e algumas chegam a se tornar terroristas. Como se vê, um puro discurso ideológico de uma mente perturbada.
Cristina Seguí foi uma das fundadoras do Vox. O Vox é um partido político espanhol de extrema direita que nasceu das entranhas do Partido Popular (PP), partido conservador e nacionalista ligado à monarquia espanhola. Antifeminista e islamofóbico, o Vox defende a família tradicional, a unidade espanhola, valores tradicionais , reação às mudanças culturais e à imigração, reunidos a propostas ultranacionalistas e uma visão neoliberal da economia. Vários grupos LGBTQIAPN+ já denunciaram o Vox por sua homofobia, uma vez que exemplos não faltam para tal. A aliança com o fundamentalismo religioso, as notícias falsas e o apoio a grupos neonazistas também estão entre as estratégias do Vox, partido que Cristina Seguí ajudou a fundar ao qual, apesar de não mais pertencer, continua intimamente ligada.
Cristina escreve, atualmente, em uma série de veículos de mídia conhecidos por espalhar fake news e defender as mesmas teses da direita radical mundial. Atualmente, escreve para o Okdiario, um jornal digital de grande circulação e que tem a fama de “imprensa marrom” na Espanha, e trabalha como analista política para a Rede Cuatro de TV, já sendo expulsa da equipe de um dos programas da emissora por ofensas pessoais a políticos e jornalistas.
Para saber até que ponto pode ir Cristina Seguí, basta ver no que ela transforma um profundo momento de desespero humano. Em maio do presente ano, um imigrante africano foi filmado quando abraçava, chorando, uma voluntária da Cruz Vermelha, enquanto esperava que profissionais de saúde tentassem reviver o seu amigo. Diante disse, Cristina manipulou o vídeo e o divulgou na forma de GIF, dando a entender que o imigrante estava manipulando os seios da voluntária. Achando que foi pouco a manipulação do vídeo, ainda comenta no Twitter: “poucas imagens refletem melhor a decadência moral dessas pessoas e seus bons discursos. Integrante de uma ONG abraçando um ilegal depois de passar 4 minutos nas águas “geladas” do Mediterrâneo, e ele se aproveitando do turgor de seus seios…” Uma monstruosidade, apenas explicada por seu posicionamento político, o mesmo de Trump e Bolsonaro.
Uma extremista de direita, antifeminista, caluniadora, difusora de fake news, promotora do discurso de ódio e conhecida internacionalmente por suas teorias da conspiração, essa é a fonte que a Record tem para acusar o Foro de São Paulo e os partidos de esquerda. É uma vergonha que qualquer emissora, até mesmo a Record, utilize métodos tão desprezíveis para atacar aqueles que não compartilham de suas posições políticas. Por isso, é hora de pensar em medidas mais duras, no âmbito jurídico, contra a emissora e a fonte citada.