A ameaçadora carta do Senado dos EUA a Bolsonaro

A carta de Menendez coloca Bolsonaro entre a cruz e a espada: caso Bolsonaro não se retrate, os EUA poderão aplicar sanções, caso a retratação seja feita, ele perde o discurso da fraude eleitoral

Imagem: Rufus / Twitter
por Alexandre Lessa da Silva

O senador democrata por Nova Jersey e presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado dos Estados Unidos, Robert Menendez, enviou no dia 12 do presente mês, uma carta em que cobra do presidente brasileiro, assim como de seu chanceler, a rejeição categórica e pública do ataque ao Capitólio por partidários do ex-presidente Donald Trump e a negação de qualquer existência de fraude na última eleição presidencial estadunidense. A carta traz ainda um aviso sobre a insistência do governo brasileiro em se manter fiel às teorias da conspiração e aos grupos que as formulam, dizendo que isso poderá ter sérias consequências nas relações bilaterais. A carta cita e critica diretamente Bolsonaro, mas traz uma carga maior sobre o ministro Ernesto Araújo. A questão que se coloca é como, e se, Bolsonaro responderá a essa carta.

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Robert Menendez, o senador estadunidense mais influente no campo da política externa, já havia pressionado o vice-presidente brasileiro, Hamilton Mourão, em relação aos direitos humanos, conforme informado pelo Washington Post. Durante o ocorrido, em abril de 2019, os democratas presentes no encontro também criticaram o apoio público dado por Bolsonaro a Trump, algo que ainda está engasgando suas gargantas. Menendez, considerado nos Estados Unidos um senador de espectro político moderado, já criticara, junto com outros senadores, a política ambiental do atual governo brasileiro sobre a Amazônia, chamando-as de equivocadas e anticonservacionistas, além de afirmar que a Amazônia, apesar de brasileira, é um recurso natural crítico para o ambiente global. Aliás, Menendez já reconhece em Bolsonaro um aliado de Trump que, se pressionado, não sustenta sua posição, como no caso da União Europeia e o Acordo de Paris.

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Aliados de Bolsonaro, como a CNN Brasil, pateticamente alegam que o senador assinou “individualmente” a carta, não representando a Comissão. Entretanto, a carta foi enviada no dia seguinte ao primeiro telefonema entre Ernesto Araújo e o secretário de Estado dos Estados Unidos, Anthony Blinken, desde a eleição de Joe Biden. Some-se a isto que Menendez assinou a carta como presidente da Comissão e não, como a CNN quer fazer crer, apenas como indivíduo.

Bolsonaro, por enquanto, está usando sua famosa tática de avestruz, esperando que ninguém perceba todas as cretinices de seu governo e que Biden não cobre por todos os ataques contra os democratas e a chamada democracia de seu país.

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A carta de Menendez coloca Bolsonaro entre a cruz e a espada: caso Bolsonaro não se retrate, os Estados Unidos poderão aplicar sanções, diretas ou não, ao Brasil, caso a retratação seja feita, Bolsonaro perde o discurso da fraude eleitoral, deixando cair a desculpa para um futuro golpe. Aliás, se não houver apoio estadunidense a um golpe no Brasil, não correremos esse risco. Os militares brasileiros sabem que sem isso, nada podem, conforme demonstrado pela história.

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Aguardemos as cenas do próximo capítulo nessa relação entre os dois países, sabendo, por exemplo, que a prisão do deputado bolsonarista Daniel Silveira já aponta para um fortalecimento do STF que, como todos sabem, é um bom termômetro para a pressão exercida pelos militares sobre as instituições brasileiras.

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