Precisava de ar. Saiu de casa. Não aguentava mais. Pensou em sua segurança, de sua mulher, de sua família, mas não vestiu a máscara. Desceu as escadas, ganhou a rua. Os gramados exalavam um cheiro de terra molhada. Respirou fundo. Como era bom estar vivo. Resolveu caminhar até o centro de Brasília. Em uma hora, estava na Plataforma Rodoviária. Via rostos sem semblante, cobertos por máscaras de várias cores, estampas. Ele não, ele mostrava a cara. A Torre de TV ganhou uma altivez estranha. Era dali que brotara seu mundo nos últimos cem dias em que estivera em casa. Por entre os carros descia uma marcha de pessoas. Era um ato. Era gente. Estavam sem máscaras também. Eram milhares. Eram dezenas de milhares e rumavam sem faixas e em silêncio para a Esplanada. Algo estava acontecendo. Nunca vira tanta gente. Desceu e se juntou a eles. Eram todos mortos.