Todos os dias pareciam os mesmos. O mesmo despertar, a mesma solidão. A mesma luz branca no quarto, a mesma modorra, o mesmo banho, o mesmo café. O mesmo alfabeto, as mesmas notícias, o mesmo trabalho. A mesma comida descongelada, o mesmo cochilo, o mesmo trabalho, o mesmo anoitecer, a mesma aflição pela tarefa não terminada. A mesma comida em conserva, o mesmo filme, o mesmo programa na TV, o mesmo livro interminável. Os mesmos sonhos. Os mesmos sonhos que todos. Todos sozinhos juntos. Mas não existe “sonhar junto”. Sonhar é sozinho. O mesmo falso despertar. O mesmo despertar interminável, a mesma aflição pela tarefa não terminada, a mesma manhã, o mesmo trabalho, o mesmo cochilo, a mesma comida descongelada. O mesmo trabalho, as mesmas notícias, o mesmo alfabeto. O mesmo café, o mesmo banho, a mesma modorra. A mesma luz branca no quarto. A mesma solidão. O mesmo adormecer. Parecia o mesmo todos os dias. Há quanto tempo o tempo estava assim? Há anos. Muito antes dessa quarentena. Ela só o tornou mais banal.