Cheguei atrasado para a reunião, liguei o computador, o programa entrou, um xadrez de rostos, o meu no meio. Me vi na tela. Os movimentos lentos, entrecortados por pausas. Fechei o microfone e comecei a falar. A falar e escrever. Boa reunião, aquela. Abri a janela do texto, estava tudo lá. À medida em que falavam, à medida em que cada um falava, o texto brotava na tela. Liguei a música, ela ocupou um cantinho da cabeça. As vozes pareciam uma colagem estranha sobre as batidas secas da música. O texto continuava correndo, deslizava em nanquim preto na tela branca, enchendo a tela até transbordar pela janela. Me assomei ao peitoril. Pela janela, voltei ao xadrez da reunião, todos cantavam juntos a música que eu ouvia. Meu fone estava desligado. Todos os rostos eram o meu. Todas as vozes as minhas. Todas palavras meus lamentos. Boa reunião, aquela. O programa saiu.