3.06.2020

Resolveu ir às ruas. Estavam cheias. Aquele vaivém frenético típico das calçadas do centro. Interpelou um grupo. “Precisamos falar sobre política”. À medida em que movia os lábios, saltavam letras, sílabas, palavras, frases inteiras voando no ar, girando, orbitando. Elas compreendiam seu corpo como moscas, numa névoa transparentes que a mais ninguém compreendia e que o envolvia aos poucos, tornando-o cada vez mais transparente. Quando mais falava, mais se via através dele, até um ponto em que tanto havia dito o tornara completamente invisível. Mas ele continuava falando, falando, falando. E sua voz foi sumindo, sumindo, sumindo. E deixou de existir. O silêncio é pouco, a palavra era muito.

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