Entrou em sua sala na empresa e contemplou sua coleção de bonecos. Seus colaboradores não entendiam bem aquilo que consideravam uma excentricidade. Afinal, qual a serventia daquelas miniaturas de gente, vestidas a caráter, enfileiradas na prateleira. Ele sabia que todo dono de banco, todo grande proprietário de terras, todo industrial, todo especulador do mercado imobiliário, tinha a sua coleção. Nenhuma tão bonita e bem cuidada quanto a dele, claro. Mas tinham. Mais fácil ele se livrar de meia dúzia de colaboradores inúteis que esvaziar a prateleira em que os bonecos estavam. Os bonecos não questionavam, não criavam problemas, estavam sempre disponíveis quando ele precisava. Pensava enquanto vagava pela sala a passos lentos. Deteve-se diante de um boneco que caíra. Limpou-o e acomodou-o em seu lugar. Dera muito trabalho consertar o Jair, mas ele estava novo em folha agora.