De um lado, um inimigo invisível que vem causando a morte de milhares de pessoas no mundo todo, do outro, uma economia quebrada que precisa ser movimentada de forma racional e urgente. No meio desse caos, os trabalhadores sofrem com a iminência de demissões em massa e trabalho dobrado em “home office”.

por Beatriz Luna Buoso
A pandemia do COVID-19 tem se espalhado rapidamente, impactando o mundo inteiro, e a OMS (Organização Mundial da Saúde) orientou o isolamento social para controlar e evitar a propagação do vírus. Com essa medida, a sociedade está tendo que se adaptar a uma série de mudanças. O teletrabalho que já vinha se tornando tendência nos últimos anos, passou a ser o único jeito de garantir o funcionamento de diversas empresas durante a pandemia, tal como a forma de manter o emprego e a boa saúde dos funcionários.
No final de março, a consultoria Betania Tanure Associados (BTA) fez uma pesquisa com 359 empresas brasileiras, e foi constatado que quase metade delas já adotou o teletrabalho durante a crise. Nessas empresas, cerca de 60% dos funcionários aderiram ao modelo. Cerca de 14% das empresas afirmaram não adotar essa política de trabalho e não tem pretensão de implantá-la na empresa, e os outros 43% já possuíam essa política antes da pandemia.
Em relação ao nível de estresse nesse momento do país, 70% dos entrevistados consideram “muito alto”. O pessimismo é tão grande que os empresários não acreditam numa melhora antes dos próximos 6 meses. Comparando a crise que vivemos hoje com a crise econômica de 2008, para 89% dos empresários o momento atual é bem mais grave.
Na recente reforma trabalhista implementada pelo governo do mordomo Michel Temer, foi extinto o controle da jornada para quem está na modalidade de teletrabalho, o que está levando trabalhadores a extrapolarem o limite de horas de seus contratos. As empresas passam a solicitar tarefas a qualquer hora do dia, não respeitando o horário de trabalho do empregado e nem registrando banco de horas ou horas extras.
Além disso, trabalhar de casa traz gastos extras com internet, telefone, luz, água e equipamentos para o ofício. O artigo 75-D da CLT diz que, “as disposições relativas à responsabilidade pela aquisição, manutenção ou fornecimento dos equipamentos tecnológicos e da infraestrutura necessária e adequada à prestação do trabalho remoto, bem como ao reembolso de despesas arcadas pelo empregado, serão previstas em contrato escrito”.
No dia 28 de março de 2020 foi publicada a medida provisória 927/20, que no 4º artigo do capítulo 2 sobre o teletrabalho complementa: “Na hipótese de o empregado não possuir os equipamentos tecnológicos e a infraestrutura necessária e adequada à prestação do teletrabalho, do trabalho remoto ou do trabalho a distância: o empregador poderá fornecer os equipamentos em regime de comodato e pagar por serviços de infraestrutura, que não caracterizarão verba de natureza salarial; ou na impossibilidade do oferecimento do regime de comodato de que trata o inciso I, o período da jornada normal de trabalho será computado como tempo de trabalho à disposição do empregador.“
Felizmente agora podemos “negociar com o patrão”.
Isolamento é coisa de comunista!
Nos famigerados “grupos de zap” circulam mensagens contra o isolamento, com a desculpa do salvamento da economia. A revista ÉPOCA acompanhou alguns grupos privados, formados na época da eleição de 2018, com usuários de diversas regiões do país. Nesses mesmos grupos, circulam vídeos e textos dizendo que o isolamento é uma forma de os comunistas destruírem a nação brasileira. Nas manifestações pró-Bolsonaro, manifestantes dizem que a população está “curtindo férias”.
A realidade, no entanto, é muita diferente. Lidar com o trabalho no ambiente familiar é um dos desafios dos trabalhadores que estão nesse regime de trabalho. Conciliar e equilibrar todas as tarefas do trabalho da empresa, o trabalho doméstico e o cuidado com os filhos, que inclui auxiliá-los nas tarefas que as escolas (grande maioria) disponibilizam através de plataformas digitais. Tudo isso contando com pouca ou nenhuma ajuda de outros membros da família, já que o recomendado é o mínimo de aglomeração possível de pessoas na mesma casa. Só uma pessoa que não vive essa rotina para chamar isso de “férias”.
A verdade é que essas medidas de contenção, embora extremamente necessárias, têm deixado toda a classe trabalhadora, principalmente os mais pobres e as mulheres, cada vez mais sobrecarregados. As mulheres são as maiores prejudicadas, já que na maioria dos casos, são responsáveis pela maior parte do trabalho doméstico, são maioria nas categorias profissionais economicamente mais vulneráveis aos efeitos da pandemia (faxineiras e diaristas) e também estão na linha de frente no cuidado com os infectados, já que são maioria na área da saúde. Estamos no começo da quarentena e os trabalhadores à beira de um colapso. Com chefe cobrando, criança gritando e dinheiro faltando. Faz sentido dizer que trabalhadores que estão trabalhando em casa estão de “férias”?
salve galera, muito legal a iniciativa de vcs