Sobre o movimento Rajneesh

Complicado mesmo é gente de esquerda elogiar essa picaretagem cuja lógica era se contrapor ao projeto coletivo encarnado pela ideia de revolução

Imagem: o líder da seita
por Breno Altman

Por conta do excelente documentário “Wild Wild Country” (Netflix), lançado em abril do ano passado, li vários companheiros e companheiras de esquerda elogiando a seita liderada por Chandra Mohan Jain, aliás Bhagwan Shree Rajneesh, mais conhecido como Osho. Mais importante que os crimes cometidos pelos dirigentes desse grupo religioso, ferozmente combatido pelo cristianismo conservador quando ousou se instalar em Oregon, nos Estados Unidos, é sua própria natureza.

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Frente à mobilização popular e revolucionária dos anos 1960 e 1970, que ameaçava a ordem imperialista em vários recantos, despontaram inúmeras seitas que ofertavam às camadas médias endinheiradas a possibilidade de uma outra vida, sem terem que enfrentar os riscos da luta política e a ruptura com seus próprios privilégios. São vários os estudos e investigações, a propósito, que revelam patrocínio das agências ocidentais de inteligência a essas iniciativas, durante a chamada “guerra fria”, com o intuito de esvaziar a influência das idéias marxistas, especialmente junto à juventude.

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Osho misturava seu carisma pessoal com técnicas de meditação e tradições religiosas orientais, tratando de convencer a dissidência moral do mundo burguês, tão em voga até os anos 80, a viver em uma comunidade fechada e supostamente autossustentável. Era a negação frontal de qualquer projeto revolucionário, trocado por saídas individuais compradas a peso de ouro.

Quem se dispusesse a pagar por essa oportunidade, ganhava o direito ao simulacro de uma vida em comuna, supostamente igualitária e bondosa, plena de experiências pessoais e liberdade sexual, ancorada por uma fusão entre misticismo e auto-ajuda. O movimento Rajneesh, assim, ganhou adeptos ao redor do mundo. Era uma grande pedida para quem quisesse aliviar o sentimento de culpa e o desconforto pessoal em relação ao mundo capitalista, sem confrontá-lo e, de quebra, se divertindo à beça.

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O líder da seita e seu séquito, claro, ganhavam fortunas com a generosidade da juventude dourada que embarcava em sua charlatanice. Afinal, poucos são os negócios mais rentáveis que abusar da fé dos desesperados e deprimidos. Complicado mesmo é gente de esquerda elogiar essa picaretagem cuja lógica era se contrapor ao projeto coletivo encarnado pela ideia de revolução.

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Entre os anos 1960 e 1980, parte expressiva das camadas médias, tanto nos países capitalistas centrais quanto nos periféricos, estava acessível à integração no combate ao imperialismo. A repressão e os benefícios de classe não eram suficientes para deter essa onda, finalmente quebrada com a crise do socialismo soviético. Também cumpria seu papel a disseminação de seitas como o Rajneesh, de um individualismo nefasto, pois oferecia a quem tinha dinheiro e seus apaniguados a possibilidade de fugir do mundo, renunciando a transformá-lo.

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