Pavilhão da Bienal ficará aberto até dia 5 de dezembro com peças de João Cândido

Grandes nomes da luta e da cultura negra ganham destaque na exposição coletiva, que traz mais atrações que as convencionais obras de arte contemporâneas

Imagem: João Cândido / Reprodução
por Ivan Conterno

Nesta quinta-feira, dia 28, os curadores da 34ª Bienal de São Paulo, Jacopo Crivelli Visconti e Paulo Miyada, conversam com o público às 10h através de uma videoconferência. O debate será conduzido pela jornalista e crítica de arte Veronica Stigger. As vagas são limitadas e a inscrição deve ser feita através de uma plataforma de ingressos, embora gratuita. O evento artístico se propõe a refletir sobre a colonização e a opressão dos povos subjugados, com a presença de nove artistas de povos originários.

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Miyada foi vencedor do Prêmio Jabuti em 2020 na categoria Artes com o catálogo da exposição “AI-5 50 Anos: Ainda Não Terminou de Acabar”.

A exposição coletiva da Bienal vai até o dia 5 de dezembro no pavilhão do Ibirapuera com o título “faz escuro mas eu canto”, trecho do poema do amazonense Thiago de Mello. A entrada é grátis e não é necessário agendamento, apenas apresentação de comprovante de ao menos 1 dose de vacina contra a covid-19. Além da exposição principal, a Bienal ainda está presente em outros 22 locais, com datas diversas.

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Grandes nomes da luta e da cultura negra ganham destaque na exposição coletiva, que traz mais atrações que as convencionais obras de arte contemporâneas. Chama a atenção do público que vai ao pavilhão os dois bordados de João Cândido, o Almirante Negro, líder da Revolta da Chibata, e os cadernos e diários originais de Maria Carolina de Jesus, escritora negra de origem humilde que se tornou uma das mais importantes da literatura brasileira.

Uma das toalhas de João Cândido chama-se “O Adeus do Marujo”. A peça foi bordada após a morte de Francisco Dias Martins, um dos líderes da revolta ocorrida em 1910 que morreu na prisão vítima de sufocamento pela cal deixada pelo comandante Marques da Rocha por toda a cela. Dos dezessete revoltosos submetidos a essas condições, apenas João Cândido e João Avelino sobreviveram. Abaixo do desenho de uma âncora lê-se “liberdade” e a data em que foi deflagrada a revolta. A outra toalha bordada pelo Almirante Negro apresenta o coração sangrando.

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O negro é bastante presente, marcadamente pela série de retratos de Frederick Douglass, militante abolicionista negro e homem mais fotografado dos Estados Unidos no século 19. O trabalho da cubana Belkis Ayón traz como tema mitologia Abakuá, surgida de uma sociedade afro-religiosa secreta da ilha no tempo colonial. Seus personagens intrigantes são representados através de uma combinação de preto e branco em texturas surpreendentes, com técnicas desenvolvidas durante o período em que estudou no Instituto Superior de Arte de Havana.

A discussão semiótica se faz presente com Antônio Dias, artista paraibano falecido em 2018, presente na exposição com uma série de pinturas textuais que fazem uma reflexão sobre a própria arte.

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No último piso, os visitantes se deparam com Insurgencias Botánicas, a monumental obra trazida pela peruana Ximena Garrido-Lecca, que combina poema, técnicas de irrigação ancestrais e um sistema de escrita Moche – uma civilização anterior ao Império Inca – baseado em manchas de sementes de favas.

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Artistas de todos os continentes enriquecem a diversidade de material selecionado para essa edição. Não passará despercebida também uma caixa sonora que emite incessantemente a palavra “freedom” em protesto ao líder líbio Muammar al-Gaddafi. Impressiona que ninguém se atreva a chutá-la.

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