Pablo Hasél foi acusado de “injúrias contra a Coroa espanhola” por chamar o rei emérito Juan Carlos de “chefe de máfia”. Ano passado, Juan Carlos deixou a Espanha, alvo de uma terceira investigação por corrupção

por William Dunne
Nesta segunda-feira (15), o rapper catalão Pablo Hasél encastelou-se na Universidade de Lérida para resistir a uma ordem de prisão. Hasél foi condenado por “apologias ao terrorismo e injúrias contra a Coroa espanhola” por causa das letras de suas músicas e publicações na Internet. Em 2018, a pena chegou a ser de 2 anos e um mês de prisão, mas foi rebaixada na Sala de Apelação da Audiência Nacional espanhola para nove meses. Ano passado o caso foi parar no Tribunal Supremo da Espanha, e a condenação foi confirmada, sob o argumento de que as canções sobre o rei “excedem o direito à liberdade de expressão e opinião”.
Entre os alvos das mensagens de Hasél estava o rei emérito Juan Carlos, a quem o artista chamava de “chefe de máfia”. Em 2014, Juan Carlos abdicou do trono em favor do filho, Felipe VI, para assumir um posto mais discreto diante do fato de começava a ser investigado por corrupção. Ano passado, alvo de uma terceira investigação, que envolvia propinas na construção de um trem até Meca, Juan Carlos deixou o país e foi morar nos Emirados Árabes Unidos. Ainda assim, chamar Juan Carlos de ladrão pode dar cadeia na democracia espanhola.
Outro motivo para a sentença foram os supostos “elogios” de Hasél a ações de grupos como o GRAPO (Grupos de Resistência Antifascista Primeiro de Outubro), fundado em 1975 e considerado o “braço armado” do Partido Comunista da Espanha e o grupo separatista basco ETA. Isso, dentro de uma letra de música, foi suficiente para os juízes considerarem “glorificação do terrorismo”.
Resistência
Em Lérida (Lleida, em catalão), cidade a 150km de Barcelona, Hasél está acompanhado de cerca de 20 apoiadores, resistindo à ordem de prisão. Ao músico tinha sido dado um prazo para se entregar até a última sexta (12). Hasél recusou-se a se entregar e também não quis partir para o exílio (tema de uma de suas músicas). Hoje de manhã, pelo Twitter, o rapper anunciou que se quiserem levá-lo preso da universidade, terão que “arrombá-la”, mostrando em vídeo a porta trancada por um cadeado enquanto apoiadores gritavam uma palavra de ordem em defesa de sua liberdade.
Estoy encerrado junto a bastantes solidarios en la Universitat de Lleida, tendrán que reventarla para detenerme y encarcelarme. Es en el Rectorat de Rambla d'Aragó por si alguien de por aquí quiere echar una mano.https://t.co/QG34jYPSU3
— Pablo Hasel (@PabloHasel) February 15, 2021
No dia em que deveria ter se entregado, Hasél postou um novo clipe em seu canal no YouTube, voltando a criticar o rei e a violência policial, denunciando o fascismo de um regime de “filhos de Franco, condenando por ser franco”, e afirmando que nunca será confinado no “cárcere do medo”.
Solidariedade
O mundo da cultura se mobilizou contra a prisão de Pablo Hasél. Mais de 200 artistas assinaram um manifesto denunciando a perseguição ao rapper e o perigo de se expressar hoje na Espanha: “A prisão de Pablo Hasél faz com que a espada de Dâmocles que paira sobre a cabeça de todas as figuras públicas que ousem criticar publicamente a atuação de alguma das instituições do Estado se torne ainda mais evidente”. O manifesto foi assinado por personalidades como o diretor Pedro Almodóvar e o ator Javier Bardem.
Independência
Uma das instituições criticadas nos tweets de Hasél é a polícia espanhola, especialmente em uma série de postagens feitas durante a repressão que se seguiu à declaração de independência da Catalunha, em outubro de 2017, pelo parlamento catalão. Na ocasião, a independência foi declarada inconstitucional pela justiça espanhola, líderes independentistas foram presos e manifestantes foram brutalmente reprimidos pela polícia. Na esteira dessa repressão, Hasél está hoje ameaçado de ser preso por escrever letras de rap e fazer postagens no Twitter. Episódios como esse ajudam a explicar as eleições de ontem (14), em que os partidos independentistas da Catalunha pela primeira vez somaram mais de 50% dos votos.
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