Arnaldo Jabor: cronista medíocre, ótimo cineasta

Autor de duas das melhores adaptações da obra de Nelson Rodrigues morreu nesta terça-feira (15) aos 81 anos

Foto: Ana Branco. Edição: O Partisano
por Henrique Nunes

Arnaldo Jabor é de direita. Arnaldo Jabor é de esquerda. Arnaldo Jabor é comunista! Arnaldo Jabor é fascista! As acusações de ambos os lados acompanharam boa parte da vida do carioca, morto nesta terça-feira (15) aos 81 anos.

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Oras, mas o que era, então, Arnaldo Jabor? Mais do que tudo, um ótimo cineasta. Sua carreira como diretor, cuja estreia remete à segunda fase do Cinema Novo com o documentário Opinião Pública (1967), é ao mesmo tempo, concisa e implacável.

É dele, por exemplo, as duas melhores adaptações da obra de Nelson Rodrigues. Primeiro, levou às telas a peça Toda Nudez Será Castigada, lançada em dezembro de 1972, e que levou mais de 1 milhão de brasileiros às salas de cinema naquele ano. O filme agradou também a crítica da época que o gabaritou para vencer o Urso de Prata em Berlim — um dos festivais mais importantes da sétima arte.

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Arnaldo Jabor expressa, com extraordinária riqueza de detalhes, o mundo  neurótico e desvairado da classe média carioca e, por extensão, brasileira"  - Miguel Pereira, crítico de cinema,
Cena de Toda nudez será castigada (1972), de Arnaldo Jabor

Mas quem gostou mesmo da versão de Toda Nudez para o cinema foi o próprio Nelson Rodrigues. Tanto que imediatamente cedeu os direitos do romance O Casamento para Jabor, que o lançou em 1974.

O ápice da carreira do diretor, no entanto, aconteceria em 1986, com o filme Eu sei que Vou te Amar, considerado por muitos seu melhor trabalho. O longa não só foi selecionado para a mostra principal de Cannes, onde concorreu à Palma de Ouro de Melhor Filme, como consagrou a jovem atriz Fernanda Torres, então com 20 anos, como o prêmio de melhor atriz no festival.

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Jabor e Roman Polanski, cineasta francês, no Copacabana Palace em 2002 Foto: Ana Branco / Agência O Globo
Jabor e Roman Polanski, cineasta francês, em 2002 Foto: Ana Branco

Seu último trabalho para os cinemas foi Suprema Felicidade, lançado em 2010. Embora tenha se tornado jornalista na marra desde os anos 1990, seu nome passou a ganhar destaque quando se transformou em comentarista da TV Globo, criando um personagem tão provocador quanto superficial.

Amado por uns, odiado por quase todos, Jabor dava um verniz de sofisticação a opiniões enviesadas e quase sempre sem qualquer embasamento. Conquistou inimigos em todos os campos ideológicos, mas acabou ele próprio se tornando uma grande vítima da perseguição tanto da esquerda quanto da direita.

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Suas crônicas não deixarão saudades. Seus filmes, certamente, sim.

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