No primeiro dia de reabertura de bares e restaurantes, nosso correspondente Coronguinha fez uma tour por São Paulo e mostrou que não é uma quarentenazinha que irá detê-lo

por Bibi Tavares
Foi com brilho nos olhos que ele recebeu a notícia de que, a partir desta segunda-feira (6), após 104 dias de portas fechadas, os bares e salões de beleza iriam reabrir em São Paulo. Para ele não importava se ainda era início da semana, fez questão de vestir sua melhor camisa florida da Riachuelo e foi fazer o que mais gostava, conhecer gente nova. Por onde Coronguinha passava, contaminava o ambiente com sua simplicidade e seu jeitinho único de ser. Sempre muito discreto, muitas vezes passava despercebido entre o público que tanto gostava.
Coronguinha, assim como muita gente cuja sanidade ainda vai bem, se espantou que em pleno período de ascensão da curva de contaminados e mortos por Covid-19, o governo de São Paulo resolva ir para a chamada “fase amarela” da flexibilização da quarentena. Nosso camaradinha não soube explicar se era burrice ou mau-caratismo, mas resolveu aproveitar a segunda, afinal, segunda é dia de litrão na promoção no Sucesso’s Bar.
Antes de tudo, Coronguinha lembrou que precisava comprar um par de Havaianas, já que sua chinelinha havia arrebentado no empurra-empurra de alguma aglomeração imprópria durante a quarentena. Aproveitou que o prefeito Bruno Covas estendeu o horário de funcionamento dos shoppings, que antes estavam na “fase laranja”, funcionando apenas 4 horinhas por dia. Agora esses locais podem permanecer abertos por 6 horas, das 6h da manhã ao meio-dia ou das 16h às 22h, incluindo a praça de alimentação, um dos lugares preferidos de Coronguinha, que adora almoçar em Self-services.
Chinelinha comprada, praça de alimentação visitada, essa figurinha se dirigiu ao centro de São Paulo. Lá, fez questão de tomar breja em cada bar, mas antes foi comer um salgado top no Estadão, aquele lugar que 90% dos bikers, tiozinhos de meia idade e juventude baladeira mais sente falta. Foi a primeira vez que Coronguinha conseguiu um lugar pra sentar lá dentro e apesar do distanciamento entre os assentos, ele não se intimidou, entrou em contato com todo o mundo.
De lá, nosso aventureiro deu uma voltinha na Praça Roosevelt. Mais uma cervejinha e foi em direção à Santa Cecília, afinal, estava vestido à caráter: camisa florida, chinelinha Havaiana, óculos de sol, Malboro Blue Ice e Bic no bolso. Reunido com alguns santa ceciliers, corajosos em botar a cara na rua, Coronguinha não deixou de cumprimentar a todos com aperto de mão e beijinho no rosto. Conversou com todo o mundo, os assuntos principais eram veganismo, teoria queer e resistência mais amor, menos ódio.
Fim de noite, nosso camaradinha resolveu fazer sua última parada na Vila Madalena. Apesar de ter lido que o horário máximo de funcionamento dos bares nessa “fase amarela” vai até às 17h, sabia que a Vila Madá não o decepcionaria. Lá, não teve alquingel nem máscara no queixo que impedisse Coronguinha de se divertir, cheio dos amigos, tomava um gole de breja do copo de todo o mundo, só espalhando alegria e diversão.
No dia seguinte, nosso pequeno extrovertido acordou com aquela ressaca, cheio de sede e fedendo a cigarro. Tomou um banho, fez um café e foi ler as notícias do dia. A primeira coisa que leu foi sobre um grupo de donos de bares e restaurantes que decidiram manter seus estabelecimentos fechados, pois consideravam “suicídio” essa flexibilização agora, preferindo evitar o risco aos clientes e funcionários. Para o G1, Gabriel Pinheiro, proprietário de uma pizzaria, chegou a questionar o sentido do protocolo de reabertura, feito pelo Doria:
“Achamos os protocolos (de reabertura) vagos e, em alguns casos, sem sentido. Por que abrir apenas para o horário do almoço e fechar à noite? Não há nenhuma pesquisa mostrando que o coronavírus se propaga mais à noite”
Para a maioria desses empresários, reabrir agora seus estabelecimentos pode ser fatal, uma vez que estamos entrando no inverno, período propício à propagação de gripes, e as chances da reabertura ser suspensa em breve são grandes. Com o pico de Covid-19 chegando cada vez mais perto, reabrir bares e restaurantes agora, recontratar os funcionários e completar o estoque, para eles, é falência iminente. Mas nem tudo que vem do governo Bolsonaro é negativo, ao continuar lendo as notícias principais desta terça-feira (7), Coronguinha ficou sabendo que o teste de Covid-19 do presidente deu positivo. Percebendo que ainda há esperanças, nosso amiguinho sorriu e não deixou de prestar seus sentimentos ao moribundo: Força, Corona!