No Brasil, o silêncio sobre as mil mortes por dia é ensurdecedor, e é cessado apenas por barulhentas manifestações da extrema-direita, que se aglomera na frente do Palácio do Planalto para pedir AI-5 e coquetel de cloroquina

por William Dunne
Ontem (19) o Brasil ultrapassou a marca dos mil mortos por dia vítimas da Covid-19. Ao menos oficialmente. O Ministério da Saúde (alguém sabe o nome do atual ministro?) divulgou que em 24 horas morreram 1.179 pessoas por causa do coronavírus, uma morte a cada 73 segundos, com um incremento de 7% em relação ao dia anterior. Com esses dados, mesmo subnotificados, o Brasil passa a integrar um seleto grupo de países. Só EUA, França, Reino Unido e China tinham registrado mil mortes por dia até agora.
A apatia geral de um povo bestificado por fake news de zap, e que dá de ombros pra um desastre sanitário, é o sintoma mais agudo do vírus do bolsonarismo. Acompanhamos a comoção dos italianos quando o número de mortos chegou perto dos mil por dia em seu país. No Brasil, o silêncio sobre as mil mortes por dia é ensurdecedor, e é cessado apenas por barulhentas manifestações da extrema-direita, que se aglomera na frente do Palácio do Planalto para pedir AI-5, coquetel de cloroquina, e a “normalização das atividades econômicas do país”. Como se o capitalismo em algum momento tivesse sido algo normal.
No mesmo dia em que mil pessoas morreram de coronavírus, os dirigentes do Clube de Regatas do Flamengo, time nacional de maior torcida nas devastadas terras tupiniquins, pediu a volta dos campeonatos de futebol. Sua torcida, assim como toda a população pobre do país, continua na moita, preocupada com o andamento da situação e se virando para garantir seu sustento. Ontem o Brasil chegou aos 17.971 mortos por Covid-19. Em uma entrevista concedida à TV Bandeirantes, em 1999, Jair Bolsonaro afirmou:
“O Brasil só vai mudar infelizmente quando partirmos para uma guerra civil, fazendo um trabalho que o regime militar não fez. Matando uns 30 mil.”
Estamos quase lá.