General Hannah Arendt inventa o “comunismo de direita”

Se até acadêmico fica falando em “totalitarismo” até hoje, não seria um milico que escaparia de ter a cabeça atrapalhada por esse célebre conceito

por Guilherme Moreno

Eis que o general Santos Cruz lansou a braba em entrevista à revista Veja publicada essa semana mandando a pecha de “comunista de direita” contra o presidente Jair Bolsonaro. O general disse que o governo virou um “PT verde e amarelo”. Não podemos negar aos milicos uma certa, por assim dizer, originalidade. Para nosso azar, Santos Cruz não só inventou o “comunismo de direita” como explicou o que isso seria:

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Todo regime comunista totalitário divide para facilitar a manipulação. Depois, você ataca pessoas, não ideias. É um assassinato de reputações: todas as pessoas de que você não gosta não prestam. Temos ainda o culto à personalidade: é o mito, o messias, o cara designado por Deus. Isso tudo é uma técnica que quem consagrou foi o sistema totalitário, foi o comunismo. É o contrário de democracia.

Vejam que rigidez dos critérios! Todo governo que jogue com a divisão entre seus adversários é totalitário… Ora, então todo o mundo é totalitário, começando pela Veja, Estadão, Folha de S. Paulo e O Globo, que estão desesperados tentando dividir a esquerda no segundo turno das eleições municipais, jogando PSOL contra PT, e vice versa. Qualquer um que faça política é “totalitário”, por esse critério. E o que dizer de “todas as pessoas de que você não gosta não prestam”? O próprio general é “totalitário”, acusa todo o mundo de quem ele não gosta, à esquerda e à direita, de serem “totalitários”.

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O general poderia ser “cientista político”

Mas temos que dar um desconto ao Santos Cruz. Se até acadêmico fica falando em “totalitarismo” até hoje, não seria um milico que escaparia de ter a cabeça atrapalhada por esse célebre conceito da filosofia política free style. Hannah Arendt criou essa geringonça conceitual de modo que fosse possível igualar os dois grandes inimigos da Segunda Guerra Mundial: a Alemanha Nazista e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Uma operação que permite a comparação entre um estado operário que resistia ao imperialismo e um estado a serviço de um projeto imperialista que visava exterminar povos inteiros e escravizar quem sobrasse.

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Nosso general Hannah Arendt está ecoando essa comparação esdrúxula quando diz que Bolsonaro é um “comunista de direita”. De outra forma, isso já foi dito antes, quando dizem que o “nazismo é de esquerda”. O nazismo seria o próprio “comunismo de direita” de acordo com essa “definição”. Santos Cruz só nos fez o favor de, sem querer, expor mais uma vez a ideia de “totalitarismo” ao ridículo tirando dela suas conclusões absurdas.

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