De um lado, o pequeno Peru Livre, partido de Pedro Castillo. Do outro, o partido de Keiko Fujimori, herdeira da ditadura de seu pai

por Bibi Tavares
Nesta quinta-feira (9), Keiko Fujimori chorou no Peru após perder a eleição presidencial para Pedro Castillo. No fim da segunda-feira, Castillo já tinha passado a candidata com os votos, principalmente, do campo. A apuração, que havia começado no domingo, colocou o fujimorismo na derrota com uma diferença bem pequena, mostrando que o Peru também está altamente polarizado. Com a pandemia e um cenário de crise estabelecido, a população foi mostrar nas urnas que confia em Pedro Castillo para que ele cuide bem do Peru.
Claro que, assim como a direita num geral, Keiko não deixou barato. Assim que percebeu que a virada no Peru não tinha volta, lançou a velha tática da eleição fraudada, também conhecida como “só vale se eu ganhar” *insira aqui o vídeo de alguma criança puta porque perdeu no Uno pra mãe*. Keiko chegou a afirmar que a vontade popular não estava sendo respeitada, o que nos faz pensar que a família Fujimori não quer tirar as mãos do Peru de jeito nenhum.
A votação pau a pau mostra que a intensa polarização não é uma característica isolada do Brasil. No Peru, a herança da ditadura de Alberto Fujimori, pai de Keiko, ainda agrada grande parte da população, mesmo com a oposição emergindo cada vez mais. Alberto Fujimori governou o Peru durante quase toda a década de 1990, arrancando sangue da população e provocando uma crise que dura até hoje.
Na época, assim que se elegeu presidente, Fujimori aplicou um autogolpe, fechou o Congresso e passou a governar o país através de decretos. Ele, além de mergulhar o Peru no mar das privatizações, foi o responsável por práticas grotescas, como a esterilização forçada de pelo menos 200 mil mulheres, como parte de seu plano cruel para o controle de natalidade.
Sobre esse infame episódio da história das mulheres peruanas, no início de maio Keiko disse que isso não passou de uma estratégia de planejamento familiar. Bom, talvez se tivessem feito planejamento familiar na família Fujimori, o Peru não teria que lidar com aberrações como essa, que passam de pai para, nesse caso, filha. Olha a falta que fez a esterilização correta num certo Peru…
Um Peru à esquerda
Do outro lado, tentando fazer o Peru levantar, temos Pedro Castillo, nascido na província de Chota, em 1969, representando o Peru Livre. Castillo, além de ser professor primário, liderou uma greve de professores em 2017 reivindicando melhores condições de trabalho e salário. Na época, a greve conseguiu parar as aulas por três meses. A partir desse episódio, o professor peruano passou a ficar mais em evidência na vida política. Mesmo assim, não deixou suas raízes humildes de lado.
Em comparação com as opções pouco animadoras, o líder sindical Pedro Castillo é considerado radical. Dentre suas principais propostas políticas estão regulamentação da mídia, aumento de salário para os professores, aumento do orçamento da educação e o fechamento do Congresso, caso não seja aceito votar uma nova Constituinte, já que a atual foi feita na época da ditadura de Fujimori. Enquanto isso, afirmo categoricamente que o silêncio da Juliana Paes sobre os delírios comunistas de Castillo, de maior investimento na educação, é ensurdecedor.
Um novo Peru está a caminho
Depois de manifestantes sacudirem o Peru em intensas manifestação no final de 2020, a mudança parece finalmente ter chegado. A crise que assola o Peru estava se intensificando desde 2018, quando Pedro Pablo Kuczynski (PPK), então presidente eleito em 2016, deixou o cargo em meio a um escândalo de compra de votos no parlamento. Com a saída de PPK, quem assumiu a presidência foi seu vice, Martín Vízcarra. Sim, PPK abandonou o Peru no meio dos trabalhos. Em 2020, Vízcarra sofreu um impeachment, acusado de “incapacidade moral”, deixando o cargo para o então presidente do Congresso, Manuel Merino.
Com toda essa agitação no Peru, a população resolveu ir às ruas no final do ano passado contra a destituição de Martín Vízcarra. Os manifestantes alegavam que esse impeachment foi um golpe contra a democracia, algo parecido com o que ocorreu aqui no Brasil, com Dilma Rousseff. Agora, após essas eleições com o Peru enterrando o fujimorismo, o caminho para os ideias socialistas está pavimentado.
E quais seriam as consequências dessa virada no Peru? Bom, se tudo der certo com a vitória do líder sindicalista e suas projeções socialistas forem concretizadas, o país pode, enfim, jogar na lata do lixo a herança neoliberal deixada pelo ditador Alberto Fujimori, que deixou o Peru na lama.
Resta saber se a Keiko Fujimori vai deixar o Peru em paz. É a chance das veias abertas do Peru serem curadas de alguma forma. Com certeza, após essas eleições, o Peru sairá maior e com direito a festa na Chota!