“Golpe” do dia 7 de setembro termina em pedido de desculpas ao STF pelas palavras que “decorreram do calor do momento”

por William Dunne
O alardeado “golpe” do dia 7 de setembro terminou com um pedindo de desculpas de Jair Bolsonaro ao ministro do STF Alexandre de Moraes. O telefonema foi intermediado pelo ex-presidente da Transilvânia, Michel Temer. Em nota oficial publicada na tarde de hoje, Bolsonaro disse que nunca teve “nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes”, e que Alexandre de Moraes ouviu errado a frase que o presidente gritou em cima de um caminhão de som para seus apoiadores, “eu não disse ‘não vou obedecer‘, eu disse ‘eu amo você'”. E justificou a declaração inusitada: “estava calor naquele momento”.
Voltando à história do telefonema, Bolsonaro mandou um avião até a Romênia para buscar Temer. Os dois ficaram almoçando durante quatro horas, em um encontro que não constava na agenda presidencial. Depois do encontro, o autor da cartinha golpista para Dilma revelou que escreveu também a nota assinada por Bolsonaro hoje.
Temer sempre tem uma carta na manga. Infelizmente para Bolsonaro, suas declarações ao STF não agradaram seus seguidores. Contrariados, expoentes do bolsonarismo foram para as redes reclamar. Merda volant.
GAME OVER pic.twitter.com/EiEgzB5FPV
— Allan Dos Santos (@allanldsantos) September 9, 2021
Dia 7: multidão nas ruas com pauta patriótica condenando o arbítrio
Dia 9: Bolsonaro elogia China como essencial e pede desculpas ao STF.
Game over.— Rodrigo Constantino (@Rconstantino) September 9, 2021
CONTINUO ALIADO , MAS NÃO ALIENADO ! Bolsonaro pode colocar a nota que quiser , Alexandre de Moraes continua a ser um ditador da toga que rasgou a constituição e prendeu gente inocente . MINHAS CONVICÇÕES SÃO INEGOCIÁVEIS !
— Silas Malafaia (@PastorMalafaia) September 9, 2021
O gado está desiludido. Temer, ao menos, teve o cuidado de não usar mesóclise em uma nota escrita para Bolsonaro assinar. O recuo diante do STF não foi o único do dia. Pela manhã, o Brasil inteiro escutou a mensagem do presidente enviada por áudio do zap pedindo para os caminhoneiros desbloquearem as estradas. E ainda na mesma manhã, Bolsonaro exaltou a parceria do Brasil com a China durante a cúpula dos BRICS, afrontando outra crendice cara aos mínions negacionistas, de que o Brasil deveria se contrapor à China em nome de uma guerra cultural.
Assim chega ao fim a última jornada golpista de Bolsonaro, que não saiu do 7 de setembro nem morto, nem vitorioso. Ainda pode terminar preso. A decepção entre os mínions é patente, e muitos estão pedindo ironicamente a volta de Temer. Depois de enfrentarem ônibus, salgado de dez reais no Graal, cinco horas de sol na moleira, assaduras nas coxas e ataques de labirintite, os apoiadores do presidente voltaram pra casa (e de novo passaram no Graal) sem nada. Acharam que iam fechar o STF e quase tomaram uma mesóclise no meio da testa.
Desde antes de vencer as eleições o bolsonarismo ameaça de fechar o STF enviando para lá um cabo e um soldado. Falas bombásticas que visam apresentar Bolsonaro como o patriótico opositor de um sistema corrupto tomado por esquerdistas. Porém, como nem só de bravata vive o homem, principalmente com 9% de inflação, falta de energia, gás de cozinha a 100 reais e 19 milhões de pessoas passando fome, a discurseira não está colando mais com quase ninguém. Os apoiadores que restavam foram traídos dia 7. Mas não foi por falta de aviso. Muita gente apontou que Bolsonaro, o “anti-sistema”, está vivendo de dinheiro público há 30 anos em cargos políticos. Ele, mais do que ninguém, é o “sistema”, ou, como gosta de dizer, ele é o “estábichim” (“establishment“). Mas quando é assim não adianta avisar. Seus apoiadores são os últimos a saber.
