Amor zoófilo: a reportagem que pode derrubar Bolsonaro

Com exclusividade para O Partisano, testemunhas relatam crime do presidente, e denunciam os momentos de horror vivenciados por sua vítima na cidade de Eldorado

Jurei, minutos antes do crime. Imagem: O Partisano
uma crônica de Rôney Rodrigues

Um escândalo do passado de Bolsonaro, desenterrado nesta reportagem exclusiva, pode estremecer a República e ser o gatilho derradeiro para Rodrigo Maia tirar o excelentíssimo traseiro que jaz sobre os inúmeros pedidos de impeachment contra o presidente no Congresso. Uma história que envolve sexo, Forças Armadas e galinheiro – e sobre a qual o Planalto e a milícia bolsonarista tentaram, diversas vezes, impedir a investigação.

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Tudo começou em março de 2012. Jair Bolsonaro participou de um quadro do finado CQC, submetendo-se a uma constrangedora entrevista monitorada por um detector de mentiras. Não que constrangimento seja um problema para o (que Deus nos perdoe) Presidente da República – ao contrário, sua trajetória na vida pública foi construída principalmente de vômitos opinativos e chiliques de masculinidade exacerbada.

Na época, o deputado canastrão ainda era membro do baixo clero da política nacional e porta-voz da polêmica burra, mas não menos megalomaníaco. Almejava chegar ao comando de uma das nações que mais se projetava no mundo – e transformá-la em um puxadinho pra sua família. Foi astuto: se programas como Super Pop ou CQC precisam de um bicho exótico da política para alavancar a audiência, ofereceria muito mais – seria truculento, ignóbil, verdadeiramente Jair, sem corar as bochechas. Mas até para quem curte um protofascista, há limites, não é? E zoofilia é um deles…

No programa, Bolsonaro, criado em Eldorado, cidadezinha do Vale do Ribeira (SP), foi questionado se perdera o cabaço com algum animal. “Ir atrás de galinha no galinheiro, todo mundo ia na minha cidade. Alguns mais malandros, iam na bezerrinha, na jumentinha. Era comum. Não tinha mulher como hoje em dia”, respondeu ele, desconfortável, justificando-se antecipadamente.

A máquina da verdade apontou: sim, o pênis de Bolsonaro havia penetrado a cloaca de uma anônima galinha.

“Admite que comeu a galinha?”, insistiu, espantado, o repórter (ou comediante de stand up escroto, não dava pra saber muito bem quando se tratava do CQC).

“Dei uma voltinha aqui”, riu ele – e confessando, enfim, a barranqueada galinácea.

Em seguida, foi perguntado se já agredira alguma mulher.

“Era garoto na Eldorado, uma menina forçou a barra para cima de mim. (…) Não queria trair a galinha”, emendou.

Apesar do teor da confissão, nenhum repórter, seja da grande imprensa ou da mídia alternativa, se prestou a investigar a história dessa vítima de estupro zoofílico que arrebatou o coração de Bolsonaro – é, ele parece ter coração sim, apesar de não dar bandeira ao fazer tanta merda ao ponto de o Brasil, em breve, não ter mais população, mas, sim, sobreviventes. Naquela época, uma oportunidade jornalística perdeu-se no meio do fluxo ininterrupto de bosta que ele, diariamente, disparava no ventilador midiático.

Já se tentou de tudo para derrubá-lo, com provas mais e outras menos documentadas e lavradas no cartório das instituições democráticas e da opinião pública: associação com milicianos, homofobia, racismo, acusações de assassinato político, corrupção, rede de fake news, nepotismo, improbidade administrativa, atentado à liberdade de imprensa, ameaças de golpe, desmonte da soberania nacional e incompetência, sobretudo na pandemia. Não surtiram o efeito desejado, que é mandar esse mandato pra casa do caralho. Dizem por aí que a única coisa que poderia tirá-lo do poder, caso surgisse, seria um vídeo em que ele aparecesse dando uma bica em algum pobre gatinho – a mímese da barbárie suprema nas redes sociais.

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Pois bem: não há o gatinho, mas outra espécie pode compensar tal vácuo. Agora, com exclusividade: o repórter que aqui vos fala viajou para Eldorado, entrevistou testemunhas do crime e apresenta a história da galinha que despertou violento desejo no presidente – e o desfecho dessa trágica história.

A galinha

Jureia, a vítima, tinha uma pacata vida em Eldorado. Desfrutava, assim como suas companheiras de cárcere, de uma alimentação espartana – milho triturado e restos do almoço – em troca de obrigações diárias, como fornecer ovos para a família Bolsonaro e chocar algum pintinho em um rigoroso controle de natalidade.

“Era nossa condição: sermos galinhas caipiras. Assim como outros animais nascem para ser animais: um tucano é um tucano e, hum, um fascista é um fascista, não é mesmo? E não, não nos ofendíamos de sermos chamadas de caipiras”, rememora Jurema, uma antiga companheira do campo de concentração da família do presidente, leitora assídua de Bakunin. “Pelo menos, era bem melhor do que estarmos deformadas de tanto hormônio em mega granjas da Sadia. No galinheiro desfrutávamos de certa ilusão de liberdade”, complementa a idosa, de carne já dura, citando sua arqui-inimigo do setor das carnes.

A felicidade geral – “maior do que a de pintinho que sai da casca”, destaca Jurema – se dava quando alguma das galinhas futicava o chão e encontrava minhoca ou, então, capturava algum inseto. Comida fresca, jubilavam-se.

No poleiro, as testemunhas ainda vivas relatam que Jureia curtia, entre risinhos, futricar com as amigas detalhes sórdidos sobre o “vigor sexual” de Tião, o único galo do galinheiro.

“Ele não fazia meu tipo, não achava sua crista lá essas coisas e não tinha nem um grão de milho de gentileza: nunca convidou nenhuma de nós para um programinha romântico ou improvisou um cocorocó juntinho à luz do luar. Só queria saber de cloaca, cloaca e cloaca. Mas, em nossa situação, dava pro gasto”, constata Dindinha, outra sobrevivente.

Todas ali tinham plena consciência de que, fatalmente, chegaria o dia em que seriam executadas. Era só questão de tempo. A estratégia para prorrogar a sobrevivência era manter uma rígida dieta (para ficarem magrinhas e serem preteridas na hora do abate, procrastinando o fim) ou engordar muito (e serem reservadas para uma ocasião especial; uma galinhada em data festiva, talvez).

O maior pavor de Jureia era que algum ladrãozinho pé de chinelo invadisse o galinheiro pela madrugada e a raptasse, colocando, precocemente, um fim à sua resignada existência. Mal sabia ela que, habitando o quintal daquela casa, pudesse vivenciar sofrimentos maiores do que ser degolada por um estranho.

O jovem Jair

O introvertido Jairzinho, explodindo na fina-flor hormonal da puberdade, era tão arrogante e feio que, dado aquele contexto de ditadores brucutus no Planalto, já não via a hora em que acabaria, inevitavelmente, Presidente da República. Nas peladas na rua de trás de sua casa, quando fincava raízes na lateral (da extrema direita do campinho improvisado, claro), botava banca e, vez ou outra, quando contrariado, ameaçava parar tudo, levando a bola embora – único motivo para ser convidado.

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“Ele era daqueles pernas-de-pau que achava que gritar, bater palma e pedir falta toda hora era jogar bola – e ainda se achava raçudo, que falar besteiras com tom grosso pudesse dar um jeito no país, ops, no jogo”, conta o hoje pançudo Roberval, antes sensação da várzea de Eldorado.

Nessa época, Jair queimava óleo 40 de vontade de trepar, mas, desprovido de carisma e ainda sem auxílio-moradia pra “comer gente”, não tinha traquejo algum para consumar qualquer coisa. Se uma professora pedisse pra ele desenhar uma mulher na aula de Educação Artística, o jovem Bolsonaro gravaria no papel algo mais abstrato que um quadro do Kandinsky. A sensação hoje é a mesma se fosse rascunhar o mapa do Brasil.

Era uma secura brava, maior que Sertão nordestino antes do Lula, lembraria ele anos depois, o que o obrigava a esfolar o pau em horas e horas (e mais horas) de banhetas – solitário ou acompanhado de algum amiguinho.

“A gente já se masturbou junto vendo anúncios de sutiã na Manchete, atrás do bananal da Dona Jussara. Cada um com seu caralho e com sua mão, claro. Sou macho, porra, isso foi coisa de menino. Tínhamos a teoria de que a mão esquerda era melhor porque, como somos destros, a esquerdinha, menos hábil nos trabalhos manuais, dá uma ligeira sensação de que é uma mão estranha chacoalhando a caceta. Sim, dávamos uma olhadinha de leve na escopeta um do outro, disputávamos quem disparava mais longe, mas tudo de uma forma muito hétero-respeitosa”, confessa Luís Carvalho, o Luisinho, ou Carvalhão (segundo relatos íntimos), Posto Ipiranga de infância do deputado federal.

Nessa mesma época, o Exército acossava a região de Eldorado atrás do guerrilheiro Carlos Lamarca, comunistinha que havia dado um peão nos militares e bandeado para o lado dos “terroristas”. Chegaram, então, uns homões da porra de coturno e uniformes camuflados bem passados, gritando “sentido” e “sim, senhor”, marchando resolutos pra lá e pra cá, fuzis empunhados, homens protegendo outros homens em uma espécie de confraria, morando todos juntos em quartéis, brincando de Verdade & Tortura com presos políticos e vivendo, disciplinadamente, loucas aventuras contra o Plano Subversivo para Instaurar uma Sanguinária Ditadura Comunista no Brasil (PSISDCnoB, no jargão militar).

“Um moleque que enchia o saco pra caralho”, afirma o capitão Jacinto, militar que participou da operação em Eldorado, atualmente na reserva. “Parecia que meu coturno era de chocolate. Perguntava toda hora: tem que ler pra entrar pro Exército? Tem que saber matemática? Tem que saber de história? Até que eu cansei e falei: não, só continuar idiota assim que você chega a capitão. Vai achar boceta pra se coçar, moleque!”.

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Bolsonaro descobrira sua vocação. Ficara mais empolgado que hippie em excursão para São Tomé das Letras. Seria um militar – e encarou o conselho do cabo Jacinto como uma ordem. Precisava se “tornar homem”, achar essa tal de boceta pra se coçar.

O crime

Ao chegar em casa, com a cabeça fervilhando em elucubrações sobre seu futuro nas Forças Armadas, adentrou o quintal dos fundos, onde ficava o galinheiro. Sentiu, digamos, uma energia sexual: estava em um harém, matutou, se olhasse de certa perspectiva que só o doutor Freud poderia explicar. Ao ver Jureia botar um ovo – aquela convidativa expansão e contração de cloaca – deu uma fraquejada e ficou de pau duro.

Ela não é de se jogar fora, argumentou consigo mesmo, tomando coragem. Tem penas bonitas e sedosas – e está tão provocativa de cócoras, “merece ser estuprada”. Encarou Tião como se fosse um John Wayne e murmurou entre os dentes cerrados: “nesse galinheiro quem canta de galo sou eu”.

Caminhou vagaroso em direção a Jureia e… para que fazer suspense, não é mesmo? Agarrou a pobre ave doméstica e a traçou com a fúria – e brevidade – juvenil.

Frente ao inesperado ato de violência, Jureia cocoricou mais do que se estivesse sendo abatida com faquinha de pão. Mas ninguém ouviu a pobre galinha – se possuísse cordas vocais, com certeza gritaria “fogo”, como manda o protocolo em tragédias como essa. Apesar de todo apoio das colegas, Jureia caiu em depressão.

“Ela perdeu o gosto pela vida e só queria ser a próxima escolhida para o almoço de domingo. Mas, com esse impulso suicida, nem comia mais, e de tão magricela sempre era deixada pra depois – e para as periódicas investidas de Jairzinho”, conta Jurema.

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Tá certo, o fim dessa história é meio depressivo. Mas tenho certeza que quando Bolsonaro propagou entre seus seguidores, antes mesmo de ser eleito, aquela bizarra fake news (e foram tantas…) de que Maria do Rosário e Jean Wyllys almejavam implantar no Brasil o “casamento interespécies” como forma de combater a “zoofobia” (!), ele bem que pensou em Jureia e em como seria esse Brasil. Hoje em dia, no Palácio da Alvorada – de acordo com fontes fidedignas entre os funcionários da residência presidencial – enquanto aguarda o jantar (informando-se sobre o Brasil e o mundo por grupos de WhatsApp), quando o mordomo lhe serve uma convidativa galinhada (ou frango a passarinho ou frango assado ou filé de frango grelhado ou cozido de galinha ou peixe – que acredita ser frango aquático) – contempla intensamente o prato. A memória involuntária o arrebata, o transporta para instantes ardentes na sua Eldorado da infância, tal como uma madeleine proustiana. A ferida (e os amores) do passado ainda o assola. Jureia, Jureia…

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